quarta-feira, 3 de maio de 2023
Ailton Krenak é o vencedor do Faz Diferença na categoria Brasil
Pensador indígena defende, em livro, a sabedoria dos povos originários como fundamental para Humanidade aprender a viver em harmonia com o planeta
Por Luá Marinatto
29/04/2023 09h45
Foto: Guito Moreto
Durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, Ailton Krenak subiu à tribuna do Congresso e, enquanto pintava o rosto com tinta de jenipapo, fez um discurso histórico em defesa da população indígena. Um ano depois, quando a Constituição Federal foi promulgada, os povos originários tiveram garantido o direito a suas terras. De lá para cá, Ailton teve seis livros publicados, percorreu o Brasil dando palestras e entrevistas e se tornou um dos principais pensadores do país. Com posições firmes externadas na sua conhecida voz mansa, ele critica a exploração “predatória” do meio ambiente e exalta a sabedoria indígena como saída para salvar a Humanidade das mudanças climáticas.
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Algumas obras suas viraram fenômenos editoriais — caso, por exemplo, de “Ideias para adiar o fim do mundo” (2020). No ano passado, ele publicou “Futuro ancestral”, no qual defende a valorização do conhecimento dos povos originários como fundamental em tempos de crise.
— Temos uma série de conhecimentos tradicionais que, ao longo da História, foram negligenciados ou simplesmente apropriados. São povos vilipendiados não apenas no Brasil, mas também na América Latina, na África e em todos os continentes, impostos a essa condição de subhumanidade — diz Ailton, com a autoridade de quem nasceu numa aldeia do povo Krenak, em Minas Gerais, e já esteve em diversas comunidades de outras etnias espalhadas pelo Brasil, sempre exaltando a riqueza cultural dessas populações e denunciando abusos do “homem branco” contra as mesmas.
O próprio povo Krenak só teve o dirito a seu território reconhecido após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em 1997. Em 2015, a aldeia foi drasticamente atingida pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana. A lama tóxica da tragédia causou a morte do Rio Doce. Chamado de “Watu” (avô) pelos Krenaks, o rio era a principal fonte do sustento da comunidade.
— Fico um pouco surpreso com essa longa insistência, a perseverança dos povos originários. Mas parece que, agora que o trem desandou, estão querendo saber da gente para onde tudo está indo — diz Ailton, que não faz nenhuma questão de ser reconhecido como protagonista desse processo: — Quem faz coisa esperando resultado é técnico de seleção. Agente simplesmente faz.
Jurados: Thiago Prado (editor de Política),Thiago Bronzatto (diretor da sucursal de Brasília), Vera Magalhães (colunista) e Txai Suruí e Alice Pataxó (vencedoras na categoria em 2021)
Fonte: https://oglobo.globo.com/premio-faz-diferenca/noticia/2023/04/ailton-krenak-e-o-vencedor-do-faz-diferenca-na-categoria-brasil.ghtml
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