segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

VÍDEO / ENTREVISTA

Entrevista do fundador da ONG Núcleo de Cultura Indígena, Aílton Krenak, para o www.producaocultural.org.br —Produção Cultural no Brasil
Esta entrevista faz parte do projeto Produção Cultural no Brasil. Alguns direitos reservados.


Aílton Krenak

Fundador da ONG Núcleo de Cultura Indígena

Íntegra da entrevista, gravada no dia 24 de junho de 2010 no estúdio Cine & Vídeo, em São Paulo (veja a entrevista em vídeo clicando em http://www.producaocultural.org.br/slider/ailton-krenak/)






Meu nome é Aílton, Aílton Krenak. Este Krenak é o nome da minha família indígena de lá do Vale do Rio Doce, Minas Gerais. Os krenaks são um grupo de aproximadamente umas 100 famílias que sempre viveram ali na região do médio Rio Doce e o meu trabalho tem sido sempre, de alguma maneira, de vincular esta cultura extremamente local de lá do médio Rio Doce com os nossos vizinhos.

A partir de uma coisa que nós temos chamada Núcleo de Cultura Indígena, que é uma iniciativa que nós começamos há 20 anos atrás - a de apropriar novas tecnologias, tipo internet, Ponto de Cultura, para algumas regiões na floresta -, nós estamos concluindo agora uma ação legal que é a de formatar junto com pessoas de diferentes culturas, de diferentes lugares da Amazônia, pegando o Mato Grosso, Rondônia, Acre, Roraima, formatar com eles espaços que vão estar localizados dentro destas aldeias, onde as pessoas locais, na sua própria língua, na sua cultura local, vão poder interagir numa rede chamada Rede Povos da Floresta. Tem desde meninada, assim, de 15 anos, 16 anos, que estão começando a pegar uma câmera, máquina fotográfica, ou estes meios digitais todos, e que já estão editando, estão começando a saber o que é uma ilha de edição. Tem oportunidade de todos juntos, numa espécie de feira de cultura, de ir mostrar a produção que essa rapaziada, esse pessoal está fazendo em 30 localidades diferentes da Amazônia.

O secretário de Cultura do Estado de Minas Gerais me chamou em julho, agosto do ano passado: "Krenak, o governo vai iniciar uma série de ações agora de promoção da cultura e tem um segmento aí que a gente quer abordar, que são as comunidades indígenas, sei lá, fazer um seminário, chamar os antropólogos...". Eu peguei e falei com ele assim: "Sei lá, este papo de seminário, chamar um antropólogo, chamar não sei o quê, isso me parece uma visão tão clínica, tipo assim: 'Ah, estou com uma dor aqui, vou no médico para perguntar o que eu tenho'". Quando você pensa no caso, digamos, que é a minha praia, que é a dos índios, o meu sentimento é que a conversa é com um por um. Os krenaks não são iguais aos xavantes, nem igual aos bandeirantes, nem igual aos ianomâmis. Eu sou krenak, mas eu não posso achar que eu sei o que é legal para os guaranis, entendeu? Pergunta para os guaranis.

Se a minha guerreira cultural tiver que reconhecer alguma capacidade local, alguma potência numa ação local, a primeira coisa que ela vai fazer é procurar saber se aquela ação local é capaz de produzir o pão de cada dia. O pão de cada dia pode ser dançar, cantar, mas, na minha percepção, na minha apropriação da palavra, a guerrilha cultural significa só que você não está enquadrado. E como você não esta enquadrado, você não tem, digamos, um programa que pode ser adaptado para política pública da cultura, você não quer subsidiar um programa de política pública de cultura, o que você quer é continuar alimentando a capacidade infinita de reinventar, de revolucionar, de virar um negócio ao avesso - que tem que ser a expressão da cultura porque senão vira acomodação.


FONTE:http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/prod-cultural/integra/integra-ailton-krenak.html

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cinema feito por índios cresce e se consolida no Brasil

Diretores falam sobre o trabalho, que só é possível graças ao projeto Vídeo nas aldeias, de Vincent Carelli

Walter Sebastião - EM Cultura

Existe um cinema novíssimo: os filmes feitos pelos cineastas indígenas. São documentários sobre o cotidiano das aldeias, memórias das comunidades, eventos importantes das tribos. Que vêm recebendo prêmios no Brasil e no exterior. Movimento que, no Brasil, data do fim dos anos 1990 e teve como berço o projeto Vídeo nas aldeias. Mas, no mundo, surgiu a partir do fim dos anos 1970, com trabalhos na Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Alasca, México, Bolívia, realizados basicamente pela primeira geração de índios que frequentou a escola, a cidade e a universidade.

Kene Uxi, As voltas do Kene acaba de ganhar menção honrosa no Forumdocbh, importante mostra mineira dedicada ao cinema documental. O diretor do filme é Zezinho Yube, de 27 anos, da comunidade huni kui, território indígena Praia do Carapanã, aldeia Mibayã, no Rio Tarauacá, Acre. Agente agroflorestal, ele já realizou, desde 2005, quatro outros filmes: Novos tempos; Manã Bai, A história do meu pai; Katxa nawa, Festa da fertilidade; Já me transformei em imagem. Em dezembro, começa a edição de A festa da iniciação. Todos com trechos no YouTube.

LEIA MAIS
Projeto Vídeo nas aldeias registra a memória de olho no futuro

“O prêmio é reconhecimento do nosso trabalho. Temos muitos cineastas e filmes de qualidade. Está crescendo o espaço para realizadores indígenas”, conta Zezinho Yube. O cinema, para ele, é ferramenta de comunicação e expressão, com significado político, que tem proporcionado intercâmbio entre as aldeias. “Estamos fazendo trabalho de revitalização cultural”, afirma, satisfeito em ver revalorizadas festas e pinturas corporais, além do orgulho de ser índio, entre outras coisas. Sua obra é toda documental e já foi exibida em Nova York, no Museu do Índio, e em Washington (EUA).

Zezinho conta que, às vezes, pensa em realização de obra de ficção baseada na história de seu povo. Está trabalhando com o irmão em projeto de criação de ponto de cultura, visando à aquisição de equipamentos. Desafio posto aos cineastas, para o diretor, “é resistir, com a nossa cultura, a nossa língua, do jeito que somos, a um entorno que quer nos dominar, nos manipular”, explica o fã de Glauber Rocha.

Missões Ariel Ortega tem 24 anos, é guarani, nasceu em Missiones (Argentina). Mora em Jacuí (RS), é professor bilíngue, tem trabalho com jovens. Já dirigiu o curta Nós e a cidade e um média-metragem premiado: Duas aldeias, uma caminhada. Está realizando mais dois filmes, um sobre a espiritualidade (que, observa, é característica de seu povo) e outro sobre as missões jesuítas, onde existe uma grande aldeia que, além do Brasil, chegava ao Paraguai e à Argentina.

“Os filmes trazem nosso ponto de vista, a sabedoria dos guaranis e fortalecem a nossa cultura”, observa Ariel. Conta que, desde criança, está acostumado a ver brancos filmarem índios – “é sempre tudo feito rápido”. Avisa que as crianças precisam ver os filmes dos cineastas indígenas até para não chegarem à aldeia imaginando que se vive hoje como há 200 anos. Sonhos? “Um grande filme sobre a criação do mundo segundo os guaranis”, conta. Superprodução? “Sim”, responde, contando que vários, nas aldeias, têm jeito de ator. A obra teria narração do avô Dionísio Duarte, até hoje, aos 82 anos, considerado o cacique geral dos Mbya.

O que ver

• Coleção de DVDs Cineastas indígenas: antologia da produção de autoria indígena dos últimos 10 anos.

• Índios do Brasil : Dez programas para TV, apresentados por Ailton Krenak, mostrando como vivem e o que pensam os índios de nove povos (entre eles os maxacalis, de Minas, disponíveis para download.

• O programa A’Uwe exibe filmes de vários núcleos de produção indígenas. Domingo, às 18h30, na Rede Minas.

FONTE: http://www.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_8/2010/12/05/ficha_cinema/id_sessao=8&id_noticia=31967/ficha_cinema.shtml

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Criação brasileira em foco

O Tempo, Magazine, em 08/11/2010
Carlos Andrei Siquara

Um conteúdo inédito e abrangente sobre a produção cultural no país, ou como diz o organizador Fábio Maleronka, “uma bibliografia quente”, é o que está próximo de ser lançado até o fim deste mês, na internet e em livros gratuitos.
Reunindo cem nomes de peso, o projeto Produção Cultural no Brasil traz depoimentos de pessoas de diferentes setores culturais de alguns Estados de todas as regiões. A finalidade é traçar um panorama geral do que vem sendo criado no país, sob múltiplos pontos de vista.

“O projeto surgiu de uma constatação de que não havia um material, no Brasil, sobre produção cultural, realizada por pessoas que trabalham na área. Nós partimos dessa ideia, mas não sabíamos como fazer uma curadoria capaz de abarcar tantas manifestações em um país com proporções continentais. Quase optamos por dissolver o conceito de curadoria, e uma solução encontrada foi fazer cem entrevistas com algumas personalidades que consideramos representativas. Mas poderiam ter participado muitas outras pessoas”, conta Fábio Maleronka, produtor cultural, idealizador e coordenador dessa iniciativa.

Há mais de um mês no ar, o site do projeto (www.producaocultural.org. br) já tornou acessível alguns vídeos. No final, quando todos os depoimentos estiveram na rede vão somar cerca de seis horas de entrevistas. São falas de artistas, gestores culturais e técnicos. Cada um dos convidados apresenta a sua opinião sobre o momento atual, além de apresentar pensamentos sobre o futuro.

“Nós buscamos levar em conta as territorialidades, a importância histórica de alguns produtores, como Thomaz Farkas, Maurício de Souza, Fernando Faro, Hermínio de Carvalho, Inezita Barroso. Nós olhamos também para a trajetória das políticas culturais, então convidamos os ex-ministros da Cultura Francisco Weffort e Gilberto Gil, e, o atual, Juca Ferreira. Tentamos assim, contemplar as diferentes esferas da cultura, desde produtores, gestores até técnicos, como o serralheiro, o engenheiro de cinema, o luthier”, explica.

Iniciadas em fevereiro deste ano, as entrevistas foram realizadas em dois formatos. Uma menor, com edição em média de cinco minutos, e outra mais extensa, que vai ser transformada em livro, o qual também vai estar liberado no site, para ser consultado e reproduzido por qualquer um.

“Todo o projeto é feito sob a licença ‘creative commons’. O objetivo é democratizar o acesso e permitir que as informações sejam baixadas pela internet. Dessa forma, elas podem ser compartilhadas de muitas maneiras, seja na sala da aula, ou em qualquer outra forma de consulta. O importante é fazer circular. Nós vamos também tentar fazer um esforço para traduzir esse conteúdo para outras línguas. Assim, os livros poderão ser capturados com facilidade pelo resto do mundo”, conta.

Estendido pelas redes sociais, como Twitter, Facebook e Cultura Digital, o endereço eletrônico se estabelece como uma plataforma digital capaz de agregar interessados em discutir. O conteúdo veiculado nele visa não só tornar acessível as histórias, mas incentivar o diálogo, as trocas e o debate sobre políticas públicas. “O site é um banco de conteúdo, mas a gente acha que deve ser muito mais. Ele abre a oportunidade para surgirem debates. Hoje em dia, as pessoas interagem bastante pelas redes sociais. Usamos isso a nosso favor. E há uma conversa de que na área cultural todo mundo se conhece, o que não é verdade. Pensamos, então, na possibilidade, de por meio do site, os organizadores se encontrarem. Tomando conhecimento uns dos outros, os festivais de literatura, música e dança, todas as linguagens poderiam interagir”, afirma.

Reunindo diferentes comentários sobre a cultura, o projeto também conta um pouco da história da política cultural do país. Curiosidades se revelam como a mudança do Ministério da Cultura para Secretaria da Cultura, no governo Collor, posteriormente revertida. Os realizadores que trabalharam na época anterior a década 80 também dão notícias do contexto da produção cultural na ditadura militar.

“É possível conhecer por parte de cada um dos convidados, com suas particulares posturas ideológicas, várias histórias do passado. Mas não fica apenas nisso. As perspectivas sobre o que devemos fazer, quais são os próximos passos que aparec e m na fala de grande parte dos produtores, apontando alguns caminhos possíveis de serem seguidos”, diz Maleronka.

Do Ceará a Minas Gerais, são destacados trabalhos realizados por pessoas que encaram e valorizam a cultura pelo seu potencial transformador. E, em um comum, compartilham a ideia de que para alcançar mudanças é preciso propor alternativas capazes de gerar outros rumos, a partir de novas escolhas.

“A consciência da importância da cultura aumentou, mas, por outro lado, precisa crescer muito mais, porque estamos atrasados em relação a outros países no mesmo patamar que a gente. Alguns preconceitos precisam ser quebrados. A CULTURA não deve ser encarada como marketing cultural por parte das empresas, mas deve ser entendida como desenvolvimento estratégico, feito com linhas de crédito, para que o Brasil não seja sempre um vendedor de ‘commodities’, e possa competir com ideias e criações mais interessantes”.

Em Minas

Colaboradores de um trabalho em processo

Carlos Andrei Siquara

De acordo com a proposta do projeto Produção Cultural no Brasil, sete envolvidos com atividades culturais em Minas Gerais foram convidados para participar do ciclo de entrevistas. Dentre os escolhidos, nomes que se destacam pela realização de um trabalho específico. São eles: Ailton Krenak, escritor, jornalista e fundador da ONG Núcleo de Cultura Indígena; Allen Roscoe, fundidor de bronze de esculturas ; Bruna Christófaro, diretora de arte e cenógrafa; Cao Guimarães, artista plástico, cineasta e fotógrafo; Jochen Volz, curador artístico do Instituto Inhotim; Tindaro Silvano, coreógrafo; e Vergilio Lima, luthier.

“A abrangência do projeto é fundamental. Entre os entrevistados tem profissionais das mais diversas áreas da cultura, e assim os documentos resultantes disso prometem servir como excelente base para um rico acervo bibliográfico.

Com certeza, seria importante dar continuidade a essa ideia para que ela possa crescer com o tempo”, opina Jochen Volz, cujo depoimento vai estar disponível no site (www. producaocultural.org.br), em breve.
Da mesma opinião do curador do Instituto Inhotim, o artista mineiro Cao Guimarães também observa um diferencial na abordagem da curadoria. “O que achei interessante foi chamar as pessoas que produzem de maneira não oficiosa. E o meu jeito de fazer as coisas é um pouco assim. Eu faço um tipo de cinema mais barato, que eu chamo de cinema de cozinha. Acho relevante mostrar essas outras possibilidades”, afirma Guimarães, que atua na produção de filmes em interface com as artes plásticas.

Com 36 anos de experiência dedicados à dança, o professor e coreógrafo do Ballet Jovem do Palácio das Artes, Tindaro Silvano acrescenta como essa ideia de reunir diferentes formas de produção, sem ser apresentada sob um único viés, contribui para os realizadores se conhecerem melhor. “Nesse projeto, todo mundo pode ver o que as pessoas estão fazendo, e cada artista pode conhecer melhor o trabalho e o ponto de vista do outro. Tenho notado como, de uma maneira geral, todos os convidados parecem estar, pelo menos aparentemente, despojados de ego. Você não fica vendo os artistas falando especificamente da obra dele, sentados no próprio umbigo”, conta Silvano.

No campo da dança, o coreógrafo nota como a partir dessa iniciativa algumas discussões poderiam surgir para promover ações, como a urgente necessidade de se ampliar o acesso à informação, uma vez que no Brasil são poucas publicações sobre esse tema específico. “A gente vive em meio a um certo amadorismo, não existe nenhum LIVRO sobre dança produzido no Brasil. Eu também sou professor e, quando um aluno me pergunta de um livro sobre a história da dança, eu noto a dificuldade de encontrar um material em nossa língua. Por isso, oriento a todos a buscar aprender outro idioma para conseguirem ter acesso às edições estrangeiras”.

FONTE: http://www.cultura.gov.br/site/2010/11/09/criacao-brasileira-em-foco/

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Aos seguidores do blog:

Recebi este email do Mauro Andriole. Achei muito interessante e resolvi compartilhar com vocês. Estou incluindo um texto e belas imagens, todos de sua autoria.

"Vim a conhecer o blog destinado a fazer conhecer a pessoa e personalidade de Ailton Krenak, com quem tive o prazer de dialogar, no Nucleo de Cultura Indígena no bairro do Butantã, e mais algumas outras poucas vezes, quando coincidentement nos encontramos em locais públicos há anos atrás. Da conversa que tive na ocasião, as impressões foram tão significativas que reorientei todo o meu trabalho em artes - sou artista plástico - para vir a expor as ideias que Ailton generosamente me disse.
Tão significativo foi este encontro, que desde então trabalhei num projeto visual chamado "Dança para segurar o Céu" - composto por centenas de obras, pinturas, gravuras e esculturas. Além disso, anos depois dessa nossa conversa, vim a ingressar na Universidade de São Paulo, onde concluí o curso de Filosofia, tendo incluído depoimentos de Ailton em uma das disse rtações que fiz na disciplina "Contatos interétnicos" - ministrada pela antropóloga Dominique Gallouis.

Daí eu entrar em contato para, não só deixar meu agradecimento a Ailton, que em verdade nem sabe sobre o impacto de suas ideias em minha obra, com também enviar o texto que fiz questão de escrever, registrando este encontro.
Envio em anexo também três imagens da série " Dança para segurar o Céu", ao todo são mais de 300 monotipias que criei sobre o tema.
Se for de interesse a publicação do texto e imagens das obras, autorizo desde já. É uma forma de agradecer a Ailton por sua generosidade e empenho na construção de uma relação fraternal entre os povos. "


Música ao Vento
















O presente do fogo
















Os filhos cantam para nascer



















TEXTO:

"Certa vez uma visão, aparentemente comum, se apresentou como se fosse inédita para o que até então eu conhecia acerca da natureza. Isto se deu pela generosidade de Ailton Krenak, um índio brasileiro com quem conversava na ocasião.
Através de sua vivência infinitamente mais integrada à natureza do que a minha, ele me desocultou o óbvio. Assim, olhando por uma janela de uma pequena casa em São Paulo, eu vi as árvores dançando para segurar o Céu.

Eram árvores antigas ali na praçinha, estavam resguardando o pouco do silêncio que chegava do trânsito da avenida que corria apressada. Parecia, no entanto, que a "cidade" estava longe dalí. Um vento de final de dia soprava leve, arranhando um zum zum de fundo, feito música. Às vezes a folharada se esbarrava mais forte e matracava uma alegria qualquer.
Nada era aparentemente diferente de tudo o que sempre esteve ali para mim, uma praça, como tantas outras perdidas pela cidade, mas, no entanto, agora havia mais do que eu percebia antes daquele instante mágico.
Havia agora, ali naquela mesma praça, claramente uma correspondência entre as coisas que as tornavam agentes de um só propósito. A realidade espacial pouco importava, estava dissolvida a distância técnica e lógica que distingue o eu do outro, já não havia sentido em pensar sobre dualidades, bastava uma só verdade para o sentido de ser.
Percebi que eu também fazia parte da mesma dança, apenas estava inconsciente disso até o Ailton Krenak me mostrar. Daí veio o desocultamento: o aqui tudo era só o lá daquela Dança para segurar o Céu. Não havia um porque não ser aquilo, na verdade, de sempre ter sido assim, e na visão tudo revelava-se no movimento mudo dos galhos acompanhando o vento que cantava uma música vinda do sublime milagre da existência.
A rua canalizava esse fluxo ventania que o mato da praça amansava, e com isto, o libertava momentaneamente das definições plausíveis, da pressa e das finalidades científicas, atmosféricas, mas também, não o confiscava,ao contrário disto, integrava este fluxo vento a um Todo. Porém, isto foi só por um instante, que logo se desvaneceu em seguida, deixando este ciclo sem fim oculto, mais uma vez como a mera passagem entre a realidade urbana e o Cosmo.
Já se perdia então para mim a vivência da Dança, eu voltei à individualidade, o passante ligeiro, compromissado compulsoriamente pela sociedade onde cresci. A música silenciando, tudo assumindo uma invisibilidade imaculada,e em mim resta agora, depois de divagar livremente nela, apenas uma memória, que me dá este pretexto para um discurso que é só a menor parte de tudo que foi vivido.
Permanece, no entanto, agora em mim a busca pelo retorno a esta realização espiritual, mas também, sinto algo a mais na sensação de reviver aquele sentido, ecoando em minha Alma,algo imanente que, ao rememorá-lo, ainda que de outro modo, ecoa o pulsar típico do artista, um desejo de pintar a Dança para segurar o Céu.
Ficou assim, retido na memória, esse sonho verdade, que agora se manifesta nas imagens reorganizadas neste outro Cosmo que é Arte. Mas sempre há a chance de deixar-se levar pelo vento e dançar com ele neste Céu aberto que nos ampara desde sempre."

AUTOR: Mauro Andriole

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Seminário Patrimônio Cultural Imaterial – Salvaguarda de saberes e fazeres tradicionais

Reza a lenda que, quando o folclorista e etnógrafo brasileiro Luís da Câmara Cascudo nasceu, sua mãe derramou na água do primeiro banho um cálice de vinho do Porto, com a intenção de lhe conferir saúde, enquanto o pai teria mergulhado um patacão de prata do tempo do império para garantir fortuna ao filho. Dona Ana Maria da Câmara Cascudo era, como se diz hoje, mãe e esposa full time, e o Coronel Francisco Justino de Oliveira Cascudo, além dos ofícios do coronelado, acumulava a função de comerciante. A história de Câmara Cascudo, provavelmente, não difere tanto da de outros meninos de mesma classe social de sua época. No entanto, um olhar mais acurado para o episódio narrado mostra que na casa dos Cascudo a tradição popular estava inserida nos rituais do cotidiano. As histórias que Câmara Cascudo viria a contar anos depois em diversos livros-registros da memória popular já estavam semeadas na meninice vivida em Natal (RN), entre a beira-mar e o sertão.

Câmara Cascudo é para a tradição popular brasileira uma espécie de griô, um inventariador e participante ativo, capaz de transmitir de geração a geração os saberes e fazeres culturais que, de outra feita, teriam sido esquecidos. “Andei e li o possível no espaço e no tempo. Lembro conversas com os velhos que sabiam iluminar a saudade. Não há um recanto sem evocar-me um episódio, um acontecimento, o perfume duma velhice. Tudo tem uma história digna de ressurreição e de simpatia. Velhas árvores e velhos nomes, imortais na memória”, diz Cascudo no livro Província, de 1968.

Na prática, verificamos a partir de diversas experiências no campo da cultura que a tradição permanece viva enquanto tem significado para determinado grupo, que transmite seus saberes e fazeres por gerações. Sem a anuência e iniciativa do grupo, a tradição perde a razão de ser e se esgarça até o completo esquecimento. É, justamente, com o intuito de evitar essa perda que instituições governamentais trabalham em conjunto com a sociedade para a identificação e salvaguarda do patrimônio.

Um exemplo concreto dessa união é o caso do jongo no Sudeste. Aos poucos, a manifestação foi desaparecendo das comunidades descendentes de escravos da região, por razões diversas que, na maioria das vezes, tinham raízes socioeconômicas. Colaboraram para o esquecimento a migração de seus praticantes e os processos de urbanização; o preconceito contra as práticas culturais afro-brasileiras; e a superposição de expressões de maior apelo no mercado de bens simbólicos. No entanto, ainda havia uma chama mantida por comunidades jongueiras que valoram o jongo como elemento de construção e afirmação de sua identidade, como “conjunto de saberes ancestrais, testemunhos de sofrimento, mas também de determinação, criatividade e alegria dos afro-descendentes”, conforme explica o prefácio do livro Dossie_Jongo, editado pelo IPHAN. Foram essas comunidades que deram ensejo para a ocorrência do Inventário Nacional de Referências Culturais – InrC, desenvolvido pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular – CnfCp do IPHAN, que balizaria a posterior proclamação, em 2005, do jongo como Patrimônio Cultural Brasileiro.

Segundo o Superintendente do IPHAN no Rio de Janeiro, Carlos Fernando Andrade, a mobilização e organização dos praticantes do jongo, com especial atenção para o Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu, foram de suma importância para a salvaguarda do patrimônio. “O jongo ainda é uma prática malvista em determinadas regiões. Mas a mobilização popular e o trabalho desenvolvido no Ponto de Cultura têm contribuído muito para o fortalecimento da própria manifestação, além de elevar a auto-estima de seus praticantes”. As palavras do Superintendente completam o editorial do livro Jongo no Sudeste, assinado pelo Presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, sobre a função do IPHAN. “Ao tornar públicos processos e resultados desse trabalho, o IPHAN contribui para o reconhecimento e o respeito a esse patrimônio pela sociedade brasileira. Pedindo licença ao jongueiro velho, com este livro saudamos a todos os jongueiros novos. Saravá!”.

Com relação ao Inventário Nacional de Referências Culturais, a cientista social do IPHAN-MG, Corina Moreira, alerta: “o inventário atua como um poderoso instrumento para a mobilização social, mas requer cuidados por parte dos especialistas responsáveis pela pesquisa. Quando lançamos um olhar sobre os bens de natureza imaterial, interferimos na comunidade detentora do saber. Por isso, é preciso seguir metodologias que garantam o equilíbrio entre as demandas da comunidade e as ações de reconhecimento”, diz.

Sobre a salvaguarda, também é importante ressaltar que não se trata apenas do congelamento de tradições como mero instrumento de memória. Enquanto fizerem sentido para seus praticantes, as manifestações culturais se mantêm vivas e em constante evolução, se adaptando aos novos tempos, o que permite a manutenção da identidade e da resistência cultural, além da renovação do universo simbólico dos grupos sociais envolvidos. Essa ideia é muito bem concretizada pelo jornalista e representante da tribo indígena Krenak, Ailton Krenak, que traz à tona a memória de uma cantiga de sua infância. “Meninos e meninas se reuniam no terreiro, no fim do dia, para cantar os versos ‘o meu pai mandou dizer que se eu não achar essa agulha vai levar você. Pra trás, pra trás, uma agulha que se perde não se acha mais’. A história da agulha é simbólica e faz a gente se perguntar sobre as perdas culturais que tivemos, sobre as perdas de memória que tivemos. A possibilidade da tradição nos religar ao futuro só acontece quando nos reconhecemos nela”, afirma Krenak.

Abaixo, selecionamos um trecho autoral de Câmara Cascudo, publicado no livro Província:

“Nasci na Rua das Virgens e o Padre João Maria batizou-me no Bom Jesus das Dôres, Campina da Ribeira, capela sem tôrre mas o sino tocava as Trindades ao anoitecer. Criei-me olhando o Potengi, o Monte, os mangues da Aldeia Velha onde vivera, menino como eu, Felipe Camarão. Havia corujas de papel no céu da tarde e passarinhos nas árvores adultas, plantadas por Herculano Ramos. Natal de noventa e seis lampiões de querosene. Santos Reis da Limpa em janeiro. Santa Cruz da Bica em maio. Senhora d’Apresentação em novembro. Farinha de castanhas e carrossel. Xarias e Canguleiros. Natal que se apavorou com o holofote, enchendo as igrejas de bramidos e arrependimentos. Auta de Souza embalou-me o sono. Pedro Velho pôs-me na perna. Vi Segundo Wanderley declamar. Ferreira Itajubá cantando. Alberto Maranhão passeando a cavalo, manhã do domingo. Tinha treze anos quando veio a luz elétrica. Festas no Tirol. Violão de Heronides França. Livros. Cursos. Viagens. Sertão de pedra e Europa.

Nunca pensei em deixar minha terra.

Queria saber a história de todas as cousas do campo e da cidade. Convivências dos humildes, sábios, analfabetos , sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que hoje não têm preço. Percepção medular da contemporaneidade. Nossa casa no Tirol hospedou a Família Imperial e Fabião das Queimadas, cantador que fora escravo. Intimidade com a velha Silvana, Cebola quente, alforriada na Abolição. Filho único de chefe político, ninguém acreditava no meu desinteresse eleitoral. Impossível para mim dividir conterrâneos em cores, gestos de dedos, quando a terra é uma unidade com sua gente. Foram os motivos de minha vida expostos em todos os livros. Em outubro de 1968 terei meio século nessa obstinação sentimental. Devoção aos mesmos santos tradicionais”.

Priscila Fernandes / blog Acesso

Fonte: http://www.blogacesso.com.br/?p=3319

Semana do Índio na OAB/MS - Abril 2010

Fotos retiradas do site: http://ceaioabms.blogspot.com/2010/09/iii-edicao-do-premio-culturas-indigenas.html



Recepção do Presidente da OAB/MS, Dr. Leonardo Avelino Duarte ao palestrante da noite, o índio Ailton Krenak






Índios locais, funcionária da OAB e a presidente da CEAI/OAB/MS recebendo o índio palestrante Airton Krenak






Airton Krenak com a Drª Adriana de Oliveira Rocha

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ciclo de debates inédito discute a questão étnica no Brasil atual

Para produzir e disseminar conhecimento sobre grupos étnicos no país, a Associação Ocareté, em parceria com o Changemakers da Ashoka, a Rede Puxirão e o Núcleo Oikos, realiza o debate ENTREMUNDOS – Povos e Comunidades Tradicionais no Brasil, de 23 a 26 de agosto, em Registro (SP), no Vale do Ribeira. O projeto foi selecionado pelo programa Cultura e Pensamento do Ministério da Cultura, no edital 2009/2010. A participação é gratuita.

Aliando métodos da educação popular ao debate, o ciclo ENTREMUNDOS vai reunir pesquisadores, estudantes, lideranças tradicionais e gestores para uma discussão plural sobre o tema. Durante as manhãs, haverá a exposição dos debatedores seguida de discussão coletiva. Já as tardes serão reservadas para os Círculos de Cultura, uma metodologia de trabalho em que se apresentam, em roda, casos e situações para problematização e se pensam em desafios e soluções em plenária.

Muitos dos debatedores presentes são empreendedores sociais da Rede Ashoka, como AILTON KRENAK, Jô Brandão e Beto Ricardo. O Changemakers terá papel importante na divulgação dos produtos da discussão com representantes do Brasil, Peru e Estados Unidos cobrindo o evento via Twitter. Também soma a este evento a divulgação de um concurso global inédito – a ser lançado em 18 de agosto deste ano – com oportunidades de financiamento de projetos que trabalham com a temática de direitos territoriais.

Para saber mais sobre o evento e se inscrever, acesse: www.ocarete.org.br/entremundos

Para saber mais sobre o Changemakers: www.changemakers.com/pt-br

FONTE: http://www.ashoka.org.br/blog/2010/08/10/ciclo-de-debates-inedito-discute-a-questao-etnica-no-brasil-atual/

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Índio na mídia é tema de debates em MS

Cultura - 29/07/2010 - 12:12

Campo Grande recebe, de 1º a 7 de agosto, o Seminário “A Imagem dos Povos Indígenas no Século 21”. A cidade sede do Projeto “Vídeo Índio Brasil” (saiba mais sobre este projeto, clicando aqui) discute as novas tecnologias da comunicação e o espaço que o índio tem na mídia brasileira.

Os debates são na sala do CineCultura, que fica Pátio Avenida, na Avenida Afonso Pena, 5.420, Bairro Chácara Cachoeira, sempre às 14h30.

Não é necessário fazer inscrição para participar do seminário e a entrada é gratuita.

Confira a programação

1º de agosto (domingo) – Debate “A Imagem do Índio no Brasil: das Caravelas ao Século 21”, com as presenças de: Cristino Wapichana do Instituto Indígena para a Propriedade Intelectual (DF); Beatriz Landa, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems); com mediação de Edna Guarani.

2 – Painel “Ava Marandu – Os Guarani Convidam”, com a presença de: Belchior Cabral, coordenador do projeto Ava Marandu; e os indígenas participantes Ismael Morel, Alfredo Garay, Eliel Benites, Ambrósio Vilhalva, Eliane Juca, Ademilson Concianza, todos do Estado.

3 – Mesa-redonda “A Televisão Brasileira e o Espaço para a Difusão de Conteúdos Audiovisuais Indígenas”, com: Beto Almeida, da TeleSur (DF); e mediação da jornalista Margarida Marques.

Clique na imagem para acessar a galeria

Projeto "Vídeo Índio Brasil" começou em 2008, em Campo Grande. Filmes feitos pelo próprio indígena, mostram seu olhar sobre o mundo
Foto: Divulgação
4 – Debate “A Televisão Digital e a Ampliação do Espaço da TV Pública e Comunitária: Perspectivas de Promoção da Diversidade Cultural Brasileira”, com Moysés Corrêa da Associação Brasileira de Canais Comunitários (RJ) e Gisele Dupin da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (DF), com mediação de Eliel Benites do Ponto de Cultura Teko Arandu.

5 – “O Papel da Mídia Impressa e o Espaço Reservado às Questões Indígenas”, com a participação de: Patrícia Bandeira de Melo, da Fundação Joaquim Nabuco (PE); Ailton Krenak, jornalista (MG); e Antônio Brand, da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB); com mediação de João Terena, jornalista.

6 – “A Internet e o Audiovisual: Ferramentas de Fortalecimento, Registro e Difusão Das Culturas Indígenas”, com as presenças de: Jaborandy Tupinambá do Índios On-Line (BA); Devanildo Ramires do Ponto de Cultura Teko Arandu (MS); e Ronaldo Duque da TV Intertribal (DF). A mediação será de Divino Tserewahú, cineasta indígena (MT).

7 (sábado) – Painel “Vídeos nas Aldeias”, com: o coordenador do projeto, Vincent Carelli.

Ele também é diretor de dois filmes que serão exibidos durante o Vídeo Índio Brasil: “De Volta à Terra Boa”, documentário sobre os índios Panará; e “Corumbiara”, que entre outros prêmios, conquistou o Kikito de Melhor Filme no Festival de Cinema de Gramado em 2009.

Lançamento de livros

Junto à programação do seminário também serão lançados dois livros no dia 7, às 14h30: “O Homem Algodão: Uma Etnohistória Nambiquara”, de Anna Maria Ribeiro da Costa, pesquisadora da Fundação Nacional do Índio e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (MT); e “Os Direitos Constitucionais dos Índios e o Direito à Diferença, Face ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana”, de Samia Roges Jordy Barbieri, escritora, advogada e presidente da Comissão Especial de Assuntos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Mato Grosso do Sul (OAB-MS).


Por: Marcelo Eduardo – (www.capitalnews.com.br)

FONTE: http://www.capitalnews.com.br/ver_not.php?id=96943&ed=Cultura&cat=Not%C3%ADcias

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Semana do Índio inicia com palestra de Ailton Krenak e a luta pela causa indígena

Extraído de: OAB - Mato Grosso do Sul - 15 de Abril de 2010
FONTE: http://www.jusbrasil.com.br/noticias/2154911/semana-do-indio-inicia-com-palestra-de-ailton-krenak-e-a-luta-pela-causa-indigena

A construção da cultura e da memória indígena ainda terá que passar pelo reconhecimento da sua própria identidade enquanto povo. A afirmação é do jornalista Ailton Krenak, durante palestra ministrada no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Mato Grosso do Sul, e que marcou o início do ciclo de debates sobre a Semana do Índio, organizada pela Comissão Especial de Assuntos Indígenas da OAB/MS.

A solenidade de abertura contou com a presença do presidente da OAB/MS, Leonardo Duarte, do conselheiro federal, José Sebastião Espíndola, da presidente da CEAI, Sâmia Roges Jordy Barbieri, do vice-presidente, Wilson Capistrano, do secretário, Marcus Ruiz e do escritor, pensador e comunicador indígena, Marcos Terena. Logo após, Nito Nelson, representante dos Guarani Kaiowá fez uma oração evocando proteção e fortalecimento, "como forma de enfrentar os inimigos".

Em sua palestra, Ailton Krenak fez um retrocesso de sua militância nas causas indígenas. Além de jornalista e produtor gráfico ele atualmente trabalha como assessor especial de assuntos indígenas do governo de Minas Gerais. Segundo ele, a luta em defesa dos índios começou há muitos anos, ainda criança, após ter sido retirado de suas terras, começou a entender que os costumes e hábitos de sua tribo estavam perdendo a essência.

Para Krenak, o Brasil tem vergonha de ter índios e negros e não reconhece que esses setores da sociedade deveriam servir de base para desenvolvimento de uma nação, como acontece na Bolívia, onde 40% da população é indígena, e no Equador, que tem o índice ainda maior, chegando a 60%. No Brasil, os indígenas representam apenas 1%. Ele ressaltou a importância que os índios tiveram no avanço desses países e defendeu a idéia de que, mesmo sendo minoria, a sociedade precisa aprender a respeitá-los. "Temos que reconhecer nossas origens para empreendermos um projeto próprio como reconhecimento da nossa identidade", conclui.

Conflitos agrários - Segundo o presidente da OAB/MS, Mato Grosso do Sul além de ser o segundo estado com maior população indígena é também, depois de Rondônia, o que possui grande número de conflitos agrários. Ele afirmou, também, que o estado lidera o ranking da falta de discussão sobre a questão indígena. "É fundamental que a OAB discuta o tema, pois sabemos que a ignorância é o pior mal do mundo e o objetivo desse evento é acabar com esse mal", disse Leonardo, lembrando que "lutar contra a ignorância é um dever de todos".

A presidente da CEAI, Sâmia Roges Jordy Barbieri destacou que uma das finalidades da Comissão é buscar o reconhecimento dos indígenas junto a sociedade. "Fomentar o estudo e debate da questão indígena de forma madura e harmoniosa promovendo a paz social é nossa tarefa".

A Semana do Índio segue nesta quinta (15), no auditório da OAB/MS, a partir das 19 horas, com as palestras "Os Conhecimentos Tradicionais e a Cultura Indígena" e "O Direito Indígena em Nosso Estado" proferidas, respectivamente, por Marcos Terena e por um representante da Procuradoria Geral da República.

Autor: Claudia Sampaio

quinta-feira, 25 de março de 2010

KRENAKS- OS ULTIMOS BOTOCUDOS DO LESTE

http://www.youtube.com/watch?v=iZP2djIn8NA&feature=related

video cultural que mostra um pouco do povo krenak e sua luta por direitos vilependiados.Produzido por Haroldo e Sheila Gramelick G. Pereira.