quarta-feira, 15 de junho de 2022

Ailton Krenak é eleito para a Academia Mineira de Letras

Ele passa a ocupar a cadeira de número 24, vaga desde o falecimento do escritor e jornalista Eduardo Almeida Reis
Com 36 votos do total de 39 votantes, o escritor Ailton Krenak foi eleito como o novo ocupante da cadeira de número 24 da Academia Mineira de Letras, vaga desde o falecimento do escritor e jornalista Eduardo Almeida Reis. A eleição aconteceu na tarde desta terça-feira, dia 14 de junho, na sede da AML. Tendo como patrona Barbara Eliodora, a cadeira 24 foi fundada por João Lúcio. Por ela também passaram Cláudio Brandão, Henrique de Resende, Sylvio Miraglia e Eduardo Almeida Reis. O jornalista Rogério Faria Tavares, presidente da Academia Mineira de Letras, destacou que a chegada de Ailton à AML é um momento histórico, inédito no país: "A arrebatadora eleição de Ailton Krenak para a Academia se abre a uma inegável dimensão simbólica. Ela é uma reverência justa e devida à potente e fascinante cultura dos povos indígenas, uma das matrizes formadoras da nacionalidade. Além disso, a presença de Ailton Krenak na cena cultural brasileira é luminosa e inspiradora. Seus livros conquistaram a todos pelo vigor de sua mensagem e pela beleza de suas palavras, sendo, hoje, traduzidos para mais de treze países. São textos que nos alertam sobre como a humanidade está lidando com o meio ambiente e com o seu próprio futuro. Sua visão de mundo é poderosa, abrangente, inclusiva. Ler com atenção o que Ailton Krenak escreve é fundamental para compreender alguns dos dramas mais agudos que vivemos hoje." Sobre o novo acadêmico Ailton Krenak Ailton Alves Lacerda Krenak é um pensador, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro da etnia indígena crenaque. É também professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB). Nascido em 1953 no município de Itabirinha, no estado de Minas Gerais, na região do Médio Rio Doce, aos dezessete anos de idade Ailton mudou-se com sua família para o estado do Paraná, onde se alfabetizou e se tornou produtor gráfico e jornalista. Na década de 1980, passou a dedicar-se exclusivamente ao movimento indígena. Em 1985, fundou a organização não governamental Núcleo de Cultura Indígena, que visa promover a cultura indígena. À época da Assembleia Nacional Constituinte, uma emenda popular assegurou a participação do grupo no processo de elaboração da nova Carta Magna, momento em que Ailton assumiu ativo papel na defesa dos direitos de seu povo. Em 1988, participou da fundação da União dos Povos Indígenas, organização que visa representar os interesses indígenas no cenário nacional. No ano seguinte, participou da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que visava o estabelecimento de reservas naturais na Amazônia - onde fosse possível a subsistência econômica através da extração do látex da seringueira, bem como da coleta de outros produtos da floresta. Aí, retornou a Minas Gerais, onde passou a dedicar-se ao Núcleo de Cultura Indígena. Desde 1998, a organização realiza, na região da Serra do Cipó, em Minas Gerais, um festival idealizado por Ailton: o Festival de Dança e Cultura Indígena, que promove a integração entre as diferentes tribos indígenas brasileiras. Em 1999, sua obra O "Eterno Retorno do Encontro" foi publicada no livro "A Outra Margem do Ocidente", organizado por Adauto Novaes. Em 2000, foi o narrador principal do documentário "Índios no Brasil", produzido pela TV Escola. Dividido em dez partes, o vídeo aborda a Identidade, as línguas, os costumes, as tradições, a colonização e o contato com o branco, a briga pela terra, a integração com a natureza e os direitos conquistados pelos indígenas até fins do século XX. No ano de 2014, Ailton foi um dos palestrantes do seminário internacional Os Mil Nomes de Gaia, ocorrido no Rio de Janeiro sob organização de Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo do Museu Nacional, e Deborah Danowski, filósofa da PUC-Rio. Em abril de 2015, durante a Mobilização Nacional Indígena, convocada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – Apib, foi lançado um livro da coleção Encontros, da Azougue Editorial, que reúne diversas entrevistas concedidas por Ailton Krenak, entre 1984 e 2013. Os textos foram organizados pelo editor Sérgio Cohn e contam com apresentação de Viveiros de Castro. No dia 18 de fevereiro de 2016, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) concedeu a Krenak o título de Professor Doutor Honoris Causa, um reconhecimento pela sua importância na luta pelos direitos dos povos indígenas e pelas causas ambientais no país. Nesta mesma universidade, Krenak leciona as disciplinas "Cultura e História dos Povos Indígenas" e "Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais", ambos em cursos de especialização. Em 2018, foi um dos protagonistas de uma série na Netflix chamada "Guerras do Brasil", que relata com detalhes a formação do Brasil ao longo de séculos de conflito armado, começando com os primeiros conquistadores até a violência na atualidade. Em 2020, conquistou o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano concedido pela União Brasileira dos Escritores (UBE). Em dezembro de 2021, a Universidade de Brasília concedeu a Ailton Krenak o título de Professor Doutor Honoris Causa. Tem vários livros publicados. Sua obra está traduzida para mais de treze países. Atualmente vive na Reserva Indígena Krenak, no município de Resplendor, no estado de Minas Gerais. FONTE: Por O TEMPO DIVERSÃO Publicado em 14 de junho de 2022 | 16h29 - Atualizado em 14 de junho de 2022 | 16h29 https://www.otempo.com.br/diversao/ailton-krenak-e-eleito-para-a-academia-mineira-de-letras-1.2683763

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Documentário reúne visões de mundo e experiências que se conectam para influenciar o pensamento coletivo

A partir de 11 depoimentos no documentário “Inspira”, jornalista tenta mostrar que tudo e todos estão conectados
Krenak com a jornalista Patricia, diretora do documentário: transformações não se concluem, tudo está em movimento São Paulo – A cena se dá durante a Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, mas poderia ser hoje. Da tribuna, o jovem indígena Ailton Krenak, 34 anos à época, se dirige aos parlamentares enquanto espalha tinta no rosto: “Os senhores não poderão ficar alheios a mais essa agressão movida pelo poder econômico, pela ganância, pela ignorância do que significa ser um povo indígena”. Povo com seu jeito de viver e pensar, lembra, que nunca pôs em risco sequer os animais, quanto mais a vida de outros seres humanos. Passadas três décadas e meia, o ambientalista, filósofo e líder indígena reflete. “Interessante que eu fui cultivando em mim essa fala, pacífica, sem intenção. (…) Se a gente continuar com essa violência toda em relação às paisagens constituídas – é o desenho da vida –, se a gente vai remover as montanhas, nós vamos ficar com quê, um buraco?”, questiona. “Tudo que move é sagrado, né?”, emenda Krenak, citando verso de Amor de Índio (Beto Guedes/Ronaldo Bastos), canção lembrada principalmente pela interpretação de Milton Nascimento. Atirando um pedregulho no rio, ele comenta: “A imagem da pedrinha fazendo círculos na água sugere que não tem uma transformação que se conclui. É movimento”. Todos contados Os pensamentos de Ailton Krenak, à beira do rio Doce, na Serra do Cipó, onde vive, em Redentor (MG), abrem Inspira, dirigido pela jornalista Patricia Travassos. O documentário foi lançado na noite dessa segunda-feira (6), na recém reaberta Cinemateca Brasileira, na zona sul de São Paulo, com alguns dos 11 entrevistados presentes. No dizer da autora, é um estímulo à reflexão sobre o outro. “Estamos todos conectados e, a partir da nossa consciência individual, somos capazes de impactar o pensamento coletivo.” Na conversa com o líder indígena e pensador, surgiu a ideia de mostrar a água como uma espécie de fio condutor do filme, ao longo de quase uma hora e meia: mar, rio, chuva, nascente, tudo vira correnteza. E o compositor Lenine, na Urca, no Rio de Janeiro, surge justamente tocando e cantando Quede Água?: “Basicamente o núcleo familiar foi o grande fomentador na minha vida”, conta Lenine. Seu pai, José Geraldo, acreditava que a partir dos 8 anos de idade o ser humano deveria ser estimulado a fazer escolhas. “Sua mãe acredita que a melhor maneira de você se conectar com o divino é na missa. Papai acha que existem outras maneiras”, dizia. “A gente trocou pela música.” Ele se revela discípulo de Dorival Caymmi, o “maior compositor marinho” da história. Ancestralidade e racismo Por falar em Caymmi, a câmara se transporta para a Lagoa do Abaeté, na praia de Itapoã, em Salvador. É onde está o geógrafo e escritor Itamar Vieira Junior, autor de Torto Arado. Ancestralidade é um processo em construção e toda história é importante, lembra, ouvindo os cantos das lavadeiras. Seu livro, diz, fala em racismo estrutural, que a abolição não foi completa. “Que as pessoas ditas libertas naquele período não tiveram nenhum amparo para poder ter autonomia e governança sobre suas vidas, que elas precisaram viver errantes, trabalhando em lugares de maneira precarizada e sempre de maneira subalterna. Isso não foi modificado até os dias de hoje. Talvez a mestiçagem seja uma utopia futura do país.” Mais água, agora do rio Pinheiros, em São Paulo. Nascido em Taboão da Serra, o humorista (e ex-bancário) Thiago Ventura atravessou a ponte e veio morar na capital. Ele fala da quebrada, das cotas, racismo, das origens. Depois dele, a influenciadora digital Paola Antonini, se exercitando à beira da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, conta como foi a primeira vez em que postou uma fotografia usando a prótese – aos 20 anos, perdeu a perna esquerda ao ser atropelada. Ela criou um instituto que ajuda crianças com deficiência. Assim se sucedem as histórias, como a da atriz Clarice Niskier, em cartaz há quase 15 anos com a peça A Alma Imoral, entre vários outros trabalhos (“É um engano, no meu ponto de vista, achar que todo mundo pensando igual é o que vai preservar a humanidade (…). Cada um vai entendendo como que aquela obra coletiva pode ser feita com as várias visões de mundo, entendeu?”). Ou da física Marcia Barbosa, que desenvolveu tecnologia para transformar água do mar em potável, defensora da diversidade inclusive na ciência (“Sabe o que é entrar numa sala de aula e de 40 alunos só ter quatro mulheres, e nenhuma delas se formar contigo?”). Camadas narrativas O filme demorou quase dois anos para ser concluído, no meio da pandemia. As gravações, especificamente, foram feitas de maio a agosto do ano passado, em Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e também nas mineiras Resplendor e Betim. Também foram entrevistados a bailarina e cantora Flaira Ferro, os irmãos e grafiteiros Gustavo e Otávio (conhecidos como OSGEMEOS) e a médica da família e cantora Julia Rocha. “Durante as gravações, a nossa história foi ganhando diferentes camadas narrativas. Partimos de personalidades inspiradoras, suas histórias individuais e os grandes temas que mais as inspiravam. Chegamos a um pensamento plural”, conta a diretora. “Queríamos conectar personagens diferentes, mas queríamos também que eles dialogassem e não fossem apresentados no documentário de forma blocada, separada. O maior desafio foi montar um quebra-cabeças que fizesse sentido em conjunto, sem deixar de valorizar a história individual de cada um.” FONTE: https://www.redebrasilatual.com.br/cultura/2022/06/documentario-inspira-visoes-mundo-pensamento-coletivo/

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Aílton Krenak e Alcione são cotados para vaga de Elza Soares na ABC

Após a morte da "Voz do Milênio", a cadeira de número 28 da Academia Brasileira de Cultura ficou vaga New Mag 24/05/2022 18:56,atualizado 24/05/2022 18:56
Dois nomes estão muito bem cotados para ocupar, na Academia Brasileira de Cultura (ABC), a cadeira 28, vaga com a morte da cantora Elza Soares (1930-2022). São eles o da cantora Alcione e o do escritor e ambientalista Aílton Krenak. O nome de Krenak é visto com indisfarçável entusiasmo por poder representar o primeiro ingresso de um representante indígena na instituição. O autor, de 68 anos, é um representante da etnia krenak e nasceu em Itabirinha, Minas Gerais. A favor de Alcione pesa o fato de, a exemplo de Elza, ela ser uma representante da música. A cadeira de número 28 foi originalmente ocupada pela cantora Emilinha Borba (1923-2005), uma das mais populares artistas da chamada Era de Ouro do Rádio. Leia a matéria completa no site New Mag, parceiro do Metrópoles. FONTE: https://www.metropoles.com/entretenimento/ailton-krenak-e-alcione-sao-cotados-para-vaga-de-elza-soares-na-abc