terça-feira, 15 de março de 2022

Resiliência climática e culturas tradicionais

Práticas culturais são fundamentais para essa travessia. Ana Rita Albuquerque 16:49 - 4 De Março De 2022 As mudanças climáticas apresentam riscos para os ecossistemas terrestres e oceânicos, para os padrões de vida, saúde e segurança hídrica. A mitigação desses eventos tem que levar em conta desde a infraestrutura até as projeções de crescimento das cidades e as rupturas ocasionadas pelos eventos naturais, por guerras, pelo desflorestamento e tudo o mais que pode levar à busca de maior ou menor resiliência. Nas cidades e nos campos, alagamentos e enchentes vêm se acentuando, tornando essencial adaptação e resiliência, com investimentos e planejamento, mas também com soluções baseadas nos conhecimentos científicos e tradicionais, ou seja, o aprendizado da natureza também é fundamental para a resiliência. A inclusão no IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), em 2019, do conhecimento das populações tradicionais locais e dos povos indígenas este já consagrado desde 2007 na Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas, une ciência e natureza e oferece grande contribuição para projetos socioecológicos resilientes. Essas comunidades detêm grande prática cultural, sabedoria, tradições e formas de conhecer o mundo podendo fornecer informações e soluções para as mudanças climáticas. Importantes projetos de resiliência climática estão sendo desenvolvidos na África visando a redução da desertificação, também no Ártico, Finlândia, China e em locais mais vulneráveis ao aquecimento global, unindo os conhecimentos tradicionais e científicos. Enquanto os conhecimentos tradicionais estão sendo incorporados aos estudos científicos para a sobrevivência do planeta e estratégias de adaptação, no Brasil, a série Maracá – Emergência indígena denuncia o genocídio indígena e questiona o preço que pagaremos por tal ato. O pensador e líder indígena Ailton Krenak salienta que apesar de todas as evidências, as geleiras derretendo, os oceanos cheios de lixo, o grande número das espécies em extinção, estamos nos desconectando desse organismo vivo que é a Terra. Seu povo habita o denominado “Quadrilátero Ferrífero” em Minas Gerais, onde a lama da mineração de grandes corporações envenena a bacia do rio Doce. Nesse cenário, Krenak aponta alguma esperança: “O tempo passou, as pessoas se concentraram em metrópoles, e o planeta virou um paliteiro. Mas, agora, de dentro do concreto, surge essa utopia de transformar o cemitério urbano em vida. A agrofloresta e a permacultura mostram aos povos da floresta que existem pessoas nas cidades viabilizando novas alianças, sem aquela ideia de campo de um lado e cidade do outro” (Krenak, Ailton. A vida não é útil, p.22). Apesar de seu território estar devastado e sem caça, cumprindo as projeções de antigos pajés, Krenak sugere que ainda há tempo de um armistício e admitir que “o nosso sonho coletivo de mundo e a inserção da humanidade na biosfera terão que se dar de outra maneira” (idem, p.44). É essencial a contribuição de todos para atravessar esse deserto, e as práticas culturais são fundamentais para essa travessia, isto é, se realmente decidirmos sobreviver sem sermos devorados pelo desenvolvimento insustentável que ainda predomina sobre uma terra ainda tolerante, mas cansada. FONTE: https://monitormercantil.com.br/resiliencia-climatica-e-culturas-tradicionais/

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