segunda-feira, 31 de março de 2008

Intercâmbio cultural entre povos indígenas



Fonte: site Rede Povos da Floresta

Qui, 24/01/2008 - 21:55.

Com o objetivo de fortalecer o intercâmbio cultural entre povos indígenas, a equipe composta por Ailton Krenak, Benki Ashaninka, João Fortes e Dominique Aguiar, visitaram aldeias Surui em Rondônia e Mato Grosso.
Na Aldeia Lapetanha, que fica na terra indígena Sete de Setembro, o encontro aconteceu com o grande líder e pajé Almir Narayamoga Suruí, que vem trabalhando nas ações de preservação da floresta amazônica e sua biodiverdade.
As rodas de conversa incluíram informações sobre plantio de sementes, cuidados com os viveiros para que sejam cíclicos, qualidade do solo na região e a preocupação com a questão da neutralização de carbono.
O tão esperado encontro de Ailton Krenak com o Cacique Itabira na aldeia Apoena Meireles foi um momento de grande emoção para todos. Itabira ofereceu o arco e flecha para Ailton e trocou cocar com Benki. Gestos plenos de significado espiritual e que celebram a proposta de troca de experiências e união entre os povos.
Benki Ashaninka expôs a luta que tem liderado pelo seu povo e os resultados positivos que tem obtido, mobilizando a comunidade como um todo.
A Rede Povos da Floresta irá implantar internet em três aldeias da região o que facilitará ainda mais a troca de informações entre as comunidades. Os três pontos serão implantados nas aldeias de Lapetanha e Riozinho na Terra indígena Sete de Setembro, localizadas no município de Cacoal, Rondônia e também na aldeia Apoena Meireles, em Rondolândia, Mato Grosso.

O Ministro da Cultura Gilberto Gil recebe integrantes da Rede Povos da Floresta


Site Rede Povos da Floresta, em Ter, 25/03/2008 - 18:59.

Por Gal Rocha
Ailton Krenak, Benki e Isaac Ashaninka, João Augusto Fortes e José Paixão, Presidente do Conselho das Associações de Moradores das Comunidades Afro-descendentes do Estado do Amapá, tiveram uma reunião com Gilberto Gil, Ministro da Cultura e com Roberto Nascimento, Secretário de Incentivo e Fomento à Cultura do Ministério da Cultura.
A reunião aconteceu no dia 05 de março e os participantes tiveram a oportunidade de conversar sobre a Rede Povos da Floresta e os pontos que preenchem ações de políticas culturais do governo federal. Entre elas estão a identidade e a diversidade cultural de comunidades que têm em comum a questão da territorialidade - como os povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e seringueiros - e também a questão do patrimônio imaterial.

O ministro ficou sensibilizado com o que ouviu durante a reunião, que durou aproximadamente 40 minutos, e também interessado em estabelecer um convênio que fortaleça a Rede com cantões culturais em centros como o Yorenka Ãtame, Centro de Cultura Suruí e a Sede do Conselho das Comunidades afro-descendentes do Estado do Amapá, com cursos e oficinas e, em alguns locais, salas de projeção.

Segundo Ailton Krenak, a gravidade da questão ambiental acabou engolindo outras prioridades da Rede e tirando de foco o maior interesse da aliança: a cultura. “Todos esses povos têm um acervo cultural muito forte”, afirmou Krenak.

Do encontro caloroso, ficou também a vontade do ministro Gilberto Gil visitar futuramente a região do Alto Juruá, para conhecer de perto o Centro Yorenka Ãtame, projeto criado e desenvolvido pelos Ashaninka do Brasil.

Fonte: http://www.redepovosdafloresta.org.br/drupal/?q=node/284

Série "Índios no Brasil"






"Índios no Brasil": construindo imagens e desconstruindo estereótipos

Valéria Macedo

Programa que está sendo exibido na TV cultura, aos domingos, 18:00hs.
OBS: a emissora não fornece data prevista para duração da apresentação dos documentários.


Em momento de ressaca da "festa" dos 500 anos, chega em boa hora a série de vídeos Índios no Brasil. Identidade, línguas, costumes, tradições, a colonização e o contato com o branco, a briga pela terra, a integração com a natureza e os direitos conquistados são os temas enfocados na série produzida pela ONG Vídeo nas Aldeias para a TV Escola.

Índios no Brasil é dividida em dez programas, de aproximadamente 20 minutos, nos quais a questão indígena é abordada visando enriquecer o currículo escolar, romper estereótipos e inverter papéis, já que não apenas os índios são objeto de investigação, mas a própria sociedade não indígena ocupa o lugar do "outro".

A iniciativa representa um salto qualitativo nas produções do gênero, por seu alto teor informativo e principalmente pelo argumento que perpassa a dezena de episódios. A intenção foi flagrar o descompasso entre a imagem de um índio genérico cristalizada no imaginário dos brasileiros e a realidade de vários grupos indígenas, que estão cada vez mais articulados politicamente e mobilizados para garantir o exercício de sua identidade cultural. Para isso, têm sido necessário dominar os códigos da sociedade não índigena, não para ser iguais, mas justamente como recurso para a manutenção de sua diferença.

Dessa maneira, os vídeos mostram que, se o índio não é coisa do passado, a possibilidade de isolamento cultural certamente é. E nem por isso é preciso sucumbir aos modelos hegemônicos ditados pela sociedade industrial. O que se observa é um desenvolvimento desses povos, tanto numericamente – eram 150 mil em décadas passadas e hoje são cerca de 350 mil – quanto no resgate de suas terras, línguas e rituais. A série não deixa dúvidas: são sujeitos atuantes e, mais do que nunca, atuais.

Apresentada pelo líder indígena Ailton Krenak, Índios no Brasil faz um painel dos costumes, valores e perspectivas de índios de nove povos dispersos no território nacional, escolhidos entre mais de 200 etnias: os Ashaninka e Kaxinawá do Acre, os Baniwa do Rio Negro no Amazonas, os Krahô de Tocantins, os Maxacali de Minas Gerais, os Pankararu de Pernambuco, os Yanomami de Roraima, os Kaiowá do Mato Grosso do Sul e os Kaingang do sul do país. Os entrevistados são professores ou líderes de organizações indígenas e, por isso, bastante convincentes e articulados. Em suas falas transparece a recusa em encaixar-se nesses modelos construídos ao longo de 500 anos de invasões, exploração e, não raro, etnocídio.



Ficha Técnica:

Realização: TV Escola-2000
Produção: Vídeo Nas Aldeias
Direção: Vincent Carelli
Fotografia: Altair Paixão e Vincent Carelli
Roteiros: Henri Gervaiseau, Tutu Nunes e Vincent Carelli
Apresentação e entrevistas: Ailton Krenak
Edição: Tutu Nunes
Música de abertura: Antônio Nóbrega e Wilson Freire

Protagonistas

Além do narrador Ailton Krenak e dos depoimentos de brasileiros espalhados pelo território nacional, lideranças indígenas são os porta-vozes das nove etnias retratadas na série:

Azilene Inácio, socióloga Kaingang que trabalha em Brasília mediando conflitos, apresenta a trajetória histórica dos povos do sul e de seus professores, que reescrevem o dicionário da língua Kaingang;
O professor Joaquim Maná, do povo Kaxinawá, um dos pensadores da nova escola indígena, mostra como o ensino diferenciado está sendo desenvolvido na sua escola da floresta acreana;
Francisco Pinhanco, do povo Ashaninca, conduz uma experiência de desenvolvimento sustentável na floresta acreana com a extração de óleo de coco e outras essências;
Dona Quitéria Maria de Jesus, índia Pankararú do sertão pernambucano, há anos milita em Brasília pelos direitos dos índios nordestinos ao reconhecimento e assistência do governo;
Davi Kopenawa, líder indígena conhecido internacionalmente, e, como muitos yanomami, um xamã, defensor espiritual de seu povo;
José Bonifácio, do povo Baniwa, presidente da FOIRN, uma federação de mais de 200 organizações indígenas de 23 etnias no Alto Rio Negro, a única região do país onde o índio é maioria;
Daniel Kaiowá, enfermeiro que lidera a luta incansável dos Kaiowá pela reconquista de suas terras;
Derlindo Honkop, jovem professor que apresenta aos visitantes o ritual de iniciação dos meninos Krahô.
Saiba mais sobre cada um dos episódios:



1) Quem são eles? (18’)

O primeiro programa da série traz a tona, por meio de entrevistas com pessoas de diversas partes do país, idéias e valores arraigados no senso comum sobre a realidade indígena, os quais estão na base do processo de discriminação sofrido por essas comunidades. Os nove personagens escolhidos para representarem seus povos rebatem esses equívocos. A conclusão é que a população indígena brasileira não está fadada ao desaparecimento como muitos pensam.

2) Nossas Línguas (20’)

O episódio apresenta a língua como fator de resistência cultural. Relata a repressão histórica às línguas indígenas praticada ao longo destes 500 anos pelas missões religiosas, funcionários de governo ou pela população não índia.

Contudo, ainda são faladas mais de 180 línguas indígenas no Brasil. A Constituição de 1988 finalmente lhes reconheceu o direito à diferença e ao ensino de suas línguas, como vemos na Escola da Floresta do professor Joaquim Kaxinawá (AC).

3) Boa Viagem Ibantu! (18’)

Para vivenciarem a diversidade cultural, quatro jovens, com diferentes perfis sociais e de diferentes regiões do Brasil, são convidados a viajarem até a aldeia dos Krahô (TO). Os jovens chegam cheios de expectativas e idéias preconcebidas. A experiência oferece a oportunidade não só de estranhar a cultura do outro, mas também de criar identidades. Os jovens participam das cerimônias e dos trabalhos realizados na aldeia; têm o corpo pintado com urucum e genipapo; são batizados e recebem nomes indígenas. A despedida é pura emoção.

4) Quando Deus Visita a Aldeia (18’)

Os mesmos jovens visitam a aldeia dos Kaiowás (S), esperando encontrar algo similar à aldeia dos Krahô. Mais uma vez suas expectativas caem por terra. Já nas primeiras impressões, os jovens sentem as diferenças: as casas dispersas, já não existem mais matas ao redor e as pessoas estão maltrapilhas. Para além das aparências, eles descobrem a intensa vida religiosa dos Kaiowá e a opressão de que são vítimas por parte dos colonos que tomaram as suas terras. No final, eles observam que cada povo indígena é único, tão diferente entre si como o povo japonês do alemão.

5) Uma outra história (17’)

O Brasil foi descoberto ou invadido? O filme de Humberto Mauro de 1940 dá a sua versão do "Descobrimento do Brasil". Mas os índios são unânimes em afirmar que o Brasil foi invadido porque eles já estavam aqui. Os índios contam suas versões da história do Brasil. A cartilha de história das escolas indígenas do Acre, por exemplo, divide a história do Brasil em quatro períodos: o tempo das malocas, antes da chegada de Cabral; o tempo das correrias, quando os índios foram caçados para a ocupação dos seus territórios; o tempo do cativeiro, quando eles foram usados como mão-de-obra escrava no corte de seringa; o tempo dos direitos, quando finalmente conquistaram o direito à terra e à sua cultura.

6) Primeiros Contatos (19’)

O processo de conquista iniciado por Cabral prossegue neste século, com a ocupação do Planalto Central na década de 50 e da Amazônia na década de 70. Retratados em imagens históricas, a "pacificação" dos índios Xavante (no filme Entre os Índios do Brasil Central, de Genil Vasconcelos), e dos índios Cinta Larga em Rondônia e Parakana no sul do Pará (no filme Guerra de Pacificação na Amazônia, de Yves Billon), assistimos à catástrofe do contato que dizima as suas populações. Finalmente assistimos ao caso de pequenos grupos atropelados pelo desenvolvimento no sul de Rondônia, até um único sobrevivente de um povo que se recusa ao contato no ano 2000.

7) Nossas Terras (20’)

Nos últimos 20 anos, a maior parte das notícias sobre os índios foi sobre a questão de terras, o maior problema existente na relação entre índios e "brancos". Muita gente diz que "índio tem muita terra". Os grandes territórios indígenas encontram-se na região amazônica, e correm o risco em algumas décadas de tornarem-se as únicas reservas florestais deste país. Em compensação, nas áreas mais colonizadas, os índios perderam quase tudo e travam uma luta incessante para a reconquista de um espaço mínimo necessário ao crescimento de suas populações.

8) Filhos da Terra (18’)

Como os índios relacionam-se com os seus territórios ancestrais? O uso sustentável dos recursos da natureza é um conceito milenar dessas populações. Agora, ingressando na economia de mercado, muitos povos desenvolvem experiências de desenvolvimento sustentável com a exploração não predatória dos recursos da floresta, inspirada na filosofia dos seus antepassados.

9) Do outro lado do Céu (18’)

A religiosidade e o sentido místico da cultura indígena, tendo como referência as tribos Yanomami (RR), Pankararu (PE) e Maxacali (MG). No caso da tribo Maxacali, o índio José Ferreira discorre sobre o conceito de religiosidade para a sua etnia. Acreditam em seres espirituais bons, que vivem acima do céu, e ruins, que vagam pela terra. Os xamãs da aldeia Yanomami, verdadeiros "médicos espirituais", tratam da relação do mundo dos homens e com as forças da natureza. Também são mostradas as festas realizadas pela tribo Pankararu, onde os índios invocam os espíritos encantados que os protegem.

10) Nossos Direitos (17’)

Depoimentos sobre os direitos já conquistados e legitimados pela Constituição atualmente vigente: o direito à terra, à saúde, ao ensino de suas línguas e à livre organização de suas comunidades. Lideranças indígenas reiteram a necessidade de respeitar-se os direitos conquistados pelos povos indígenas. Há depoimentos do líder da federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), Pedro Garcia, e lideranças das tribos indígenas Kaiowá, Kaxinawá, Yanomami, Ashaninka e Kaingang.