sexta-feira, 27 de abril de 2007

[histórico] Conversa de Índio de Verdade

Por: Amália Souza
Há exatamente uma década, dois índios, um da América do Sul e outro da América do Norte, se encontraram em Washington DC -- Ailton Krenak, índio Krenak do Vale do Rio Doce, que na ocasião recebia um prêmio de Direitos Humanos, e Thomas Banyachia, o último sobrevivente do Grande Conselhode Anciões do povo Hopi. Por uma felicidade do destino era a minha a voz que traduzia a conversa desses dois visionários de nossos tempos. Gostaria de compartilhar o que aprendi.

Conversavam sobre as ameaças à continuidade da vida na terra como a conhecemos, sobre a direção que tomamos e o que é preciso para reverter esse processo. Suas palavras falavam de preocupação, mas também esperança.


Para entendê-las melhor, antes precisamos começar de uma base comum. A primeira é que sempre que falamos de meio ambiente, apontamos para longe, para um lugar lá fora --o mato, a grama do jardim, o passarinho. Mas quase nunca nos lembramos de apontar para nós mesmos - os seres humanos -- tão parte desse emaranhado, dessa teia interdependente que mantém a vida desse planeta, e tão dependentes dela como qualquer outro animal, ou planta, água, terra, fogo e ar. Somos feitos, todos nós, dos mesmos elementos químicos, em composições e combinações diferentes. E só sobrevivemos por fazer parte desta incrível e sofisticada simbiose. Nunca independentes dela. A segunda é que, por isso, não podemos nos extrair desse ambiente -- não podemos viver sem essa teia. Consumir como consumimos, despedirçar como desperdiçamos só nos leva a um resultado - o colapso desse sistema tão integrado, e ao mesmo tempo tão frágil.

Se revertemos esse processo destruidor em tempo, temos alguma chance de sobreviver com saúde. Se não o revertemos, nossas vidas se tornarão cada vez mais miseráveis. Portanto, a mudança tem que partir de ações individuais que se refletem no coletivo. Como diz Margareth Mea, "Nunca menospreze o poder dos indivíduos de provocar mudanças no mundo. Realmente, é a única coisa até hoje que já foi capaz de fazê-lo."

Com isto, voltamos a nossa estória...

Thomas contava a história de seu povo, e de todos os de pele vermelha, e dava um aviso. Segundo os Hopi, todos os povos de pele vermelha vêm de uma mesma família. Em algum momento, grupos foram incumbidos de viajar, cada um para uma direção, levando consigo um manto sagrado que deveriam enterrar no lugar que escolhessem habitar. Desse lugar não deveriam mais sair, mas protegê-lo com suas vidas.

Segundo a tradição, esses grupos viveriam isolados por milhares de anos. Mas um momento chegaria, um momento importante para o Planeta Terra, um momento de grandes mudanças e de profundas transições, em que eles deveriam unir-se novamente. Quando os pele vermelha começassem a se re-encontrar, seria para cumprir sua máxima missão, de apaziguar a Grande Mãe para que tenha piedade desse pobre povo que causou tanta destruição. "Quando a Terra começar a reagir por todo o mal trato que recebeu, não adianta correr para a ONU", dizia, "só nós, os pele vermelha, sabemos falar sua língua."

Ailton, aquele índio que pintou a cara de preto em sinal de luto por seu povo no Senado Federal durante a constinuinte, falava de responsabilidade de Ser Humano. Dizia: "já não temos tempo para sonhar... por isso já não ouvimos as mensagens da Terra. Mas, se todas as manhãs, nos olharmos no espelho, e nos vestirmos com a responsabilidade de Seres Vivos do Planeta Terra que somos, vamos nos lembrar de tomar as rédeas do nosso futuro novamente. Sobreviver não é o mesmo que viver. O índio [e certamente todo ser que vive neste planeta] quer viver, não sobreviver. Se não temos acesso às nossas terras, a água e ar puros, a comida limpa, não estamos vivendo como merecemos. Vivemos hoje como se tivéssemos uma seringa constantemente chupando nosso sangue, gota a gota. Nos esquecemos que nem sempre as coisas foram assim. Tudo isso é muito recente! Ainda podemos nos lembrar de lugares de água limpa. Ainda podemos nos lembrar do canto dos pássaros, do cheiro de mato."

Não é tarde demais para reverter esse processo, se realmente quisermos. Mas para isso, temos que acordar desse pesadelo, dessa ilusão de consumismo e principalmente de impotência. Nossa autoridade de seres planetários nos investe do poder de dizer "NÃO!". É hora de começar.

A Riqueza e a Herança Cultural Indígena

por Ailton Krenak

Nas nossas tribos, nas nossas aldeias a riqueza é sempre vista como alguma coisa que merece ser partilhada. Sempre que a riqueza for um sinal particular, um sinal de ressaltar a individualidade, ela é condenada. Quando começa a haver riqueza individual tem um instrumento muito bacana que é o seguinte: o povo vai identificando o ponto de aglutinação da riqueza, o ponto de perigo da riqueza. Aí eles vão lá, cercam a casa daquele cara que está começando a expressar sinais de riqueza excessiva, fazem uma festa e bebem e comem tudo o que o cara tem. A festa vai durar enquanto tiver ceroula, uma tanga. Quando terminar a festa aquele cara é o irmãozinho mais humilde, despojado, de toda a tribo. Agora ele vai ser aquele que todo mundo acolhe, dá comida e ajuda, para se reeducar.

Tem uma coisa muito interessante nestas cerimônias todas. Tem um mestre de cerimônia, tem um dono da festa. O que foi expropriado da última festa recebe um bastão e vai ser o dono da próxima festa. Ele que levou a maior blitz social estará ligado ao menor sinal de riqueza que ele observar nos irmãozinhos. Cria-se um eixo de vigilância sobre a riqueza alheia. Esta é uma grande inteligência da tradição.

FONTE: Rede Mundial de Artistas em Aliança
http://www.redemundialdeartistas.org.br/twiki/bin/view/Mural/MuralAiltonKrenak

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Dia de Índio: Por Quê?


Texto de autoria de Adir Casaro Nascimento, professora universitária e consultora ministerial para questões de educação indígena.

Fonte: http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=1134

"Por que se comemora a presença do índio em território brasileiro, ou se faz um esforço para que o índio seja lembrado e até exaltado a todo dia 19 de abril se o índio incomoda a tantos cidadãos brasileiros? A sociedade em geral o vê como uma personagem folclórica, de histórias antigas e de alguém que não cresceu e não evoluiu como os outros homens dessa nação; os grupos económicos os vêm como improdutivos, como atraso e impecilho para a realização de projetos desenvolvimentistas e de acúmulo de capital; os governantes sentem grande dificuldade em cumprir os direitos adquiridos, com a Constituição de 1988 e os seus desdobramentos, em especial ao que se refere à demarcação de terra e políticas públicas em educação. Se o índio é mais um problema do que reconhecidamente um cidadão, então por que comemorar?
Essa é aparentemente uma contradição. Aparentemente pois se para os imediatistas o índio é um entrave para os projetores do futuro o índio é, no bom sentido, uma necessidade, uma resposta positiva: uma necessidade político-cultural tendo em vista a sua forma de organização social e seus princípios de convivência com o outro; uma necessidade ecológica já que a sua presença garante a preservação da natureza, a vida da biodversidade e uma necessidade científica pois, dificilmente se conseguirá "capitanear"os conhecimentos produzidos pelas tradições indígenas sem que os mesmos requeiram a autoria e identidade neste processo.
Apesar dessa quase profecia com relação a importância dos povos indígenas na projeção de uma nova sociedade é certo que, quer pela história de longa duração, quer pelas expectativas de futuro o índio não tem muito o que comemorar: nem no "seu" dia e muito menos nos 500 anos, a não ser o fato de ter construído, em um longo processo de resistência que teve nuances e dinâmicas diferentes no decorrer da história de contato, a consciência da própria condição e com isso instrumentalizar-se e serem protagonistas que exigem respeito e até um certo temor no contexto da história atual. O mundo inteiro tem os olhos voltados para os índios da América Latina e notadamente do Brasil.
O Mato Grosso do Sul que tem a segunda maior população indígena aldeada do país tem uma historiografia de indiferença, descaso e expropriação dos seus povos indígenas. A história de constituição do homem sulmatogrossense não considera o índio nessa composição; o desenvolvimento económico do Estado "ignorou" a presença indígena em todo seu território e permitiu o seu confinamento para que os projetos de expansão e extração pudessem ser realizados e, com relação às políticas públicas, o Estado sempre governou, até pelo menos os meados da década de 90 como se aqui não existissem índios. Com relação à educação escolar o Estado vem buscando assumir com responsabilidade e profissionalismo a implantação e melhoria da qualidade das escolas indígenas em parceria com as prefeituras bem como desenvolvendo projeto de capacitação dos professores-índios, com destaque ao Curso de Magistério Específico aos Professores-Índios Guarani/Kaiova que deve habilitar 80 professores . Estes projetos têm contado com a participação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, da Universidade Católica Dom Bosco e da Diocese de Dourados.
Ter um dia para comemorar significa que a sociedade tem consciência da marginalização, da exclusão a que os índios foram e são submetidos. Outrora explicitamente, hoje ideologicamente onde discursos e ações não se encontram e estas significam muito mais um rearranjo, uma outra dimensão de colonização do que possibilidades de autonomia dos povos indígenas. Porém esta mesma história de contato permitiu aos índios usufruir de espaços como estes para revelarem que, como sujeitos históricos, participantes ativos deste processo, eles também aprenderam a se organizar, a se mobilizar e em uma capacidade muito grande de superação usar recursos de sua tradição e aqueles aprendidos dos "brancos" fazerem-se presentes, com dignidade, no seu "dia". Reverteram a história."

quarta-feira, 18 de abril de 2007

[histórico] Edição 2003 do Prêmio Direitos Humanos homenageia FOIRN e Ailton Krenak


O Dia Internacional dos Direitos Humanos (10/12) reuniu no Palácio do Planalto quase todos os ministros de Estado para a entrega do Prêmio Direitos Humanos 2003. As homenagens foram feitas a personalidades e instituições que se destacaram na defesa dos Direitos Humanos. A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro e o líder indígena Ailton Krenak ganharam na categoria Comunidades Indígenas.


Criado em 1995 por determinação do Presidente da República, o prêmio Direitos Humanos é uma honraria do Governo Federal concedida a pessoas e instituições cujas ações pelos direitos humanos sejam dignas de reconhecimento e valorização por toda a sociedade brasileira. Em 2003, foram instituídas 12 categorias de premiação, nas quais foram apresentadas centenas de indicações vindas de todo o país.
Comunidades Indígenas

A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – Foirn – foi vencedora na categoria Comunidades Indígenas por conta do trabalho que vem desenvolvendo com as comunidades indígenas da região tais como a piscicultura com espécies de peixes nativos, avicultura em sistema semi-aberto, agricultura tradicional, produção e comercialização de artesanato. Além disso, a Foirn foi apresentada como a entidade que apóia mais de 200 professores indígenas da região na realização de assembléias e cursos com o objetivo de promover a educação diferenciada dos povos indígenas. Outro destaque lembrado na cerimônia, sobre o trabalho da Foirn, foi o projeto Cidadania Indígena do Rio Negro, com atuação itinerante, que realiza campanhas para fornecer documentação civil básica e leva orientação sobre direitos às comunidades indígenas.
Ailton Krenak, homenageado como personalidade na categoria Comunidades Indígenas reconhecida dentro e fora do Brasil, também estava emocionado. Ele participou intensamente de todo o processo de elaboração do texto constitucional de 1988, e fundou o Núcleo de Cultura Indígena. Também criou e dirigiu o Centro de Pesquisa Indígena e o Núcleo de Direitos Indígenas -NDI. Ailton foi apresentado como uma grande liderança indígena. "A sabedoria de Ailton Krenak está contida na sua atuação política da União das Nações Indígenas - UNI-, cuja intervenção é hoje decisiva não apenas para os povos indígenas mas para o conjunto da sociedade civil brasileira."

domingo, 15 de abril de 2007

Danielle Miterrand participa de ritual indígena pelo Dia Mundial da Água

22/03/2007

Pajelança abriu último dia de evento ambiental no Jardim Botânico.
Entidade francesa financiou programa de ONG brasileira.
Alba Valéria Mendonça Do G1, no Rio

As celebrações pelo Dia Mundial da Água começaram cedo, nesta quinta-feira (22), no Rio de Janeiro. Na Fundação Jardim Botânico, no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, a ex-primeira dama da França, Danielle Miterrand, presidente da Fundação France-Libertés participou de um ritual indígena, numa pequena cachoeira.



Os pajés Ailton Krenak, de Minas Gerais, Benki Ashaninka e Leopardo Bane, ambos do Acre, cantaram e fizeram um ritual diante de uma pequena cachoeira do parque.

A pajelança abriu o segundo e último dia de debates do Encontro Águas de Março, no Espaço Tom Jobim, no parque. No encontro, autoridades e ambientalistas discutiram estratégias sobre manuseio e preservação da água. No evento, Danielle Miterrand lançou o movimento Porteurs D´Eau (Mensageiros da Água), que desde novembro do ano passado vem realizando um trabalho de conscientização na França e no Canadá sobre o melhor aproveitamento dos recursos hídricos.

No Brasil, o movimento financiou o programa de preservação do meio ambiente da Fundação Gol de Letra, dos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo. Foi produzido um vídeo com as crianças assistidas pelo projeto, que mostra a degradação da Praia do Caju, na Zona Portuária do Rio. O local era o balneário preferido de D. João VI.

O pajé Krenak lembrou que para a maioria das culturas indígenas, a água é considerada um espírito, que concede vida a todos os seres que a rodeiam. Ele lamentou que as antigas gerações não tenham atentado para a importância da preservação dos recursos hídricos do planeta. Já Benki, entoou um cântico de sua tribo que fala de pássaros que se banham em rios espalhando alegria por onde voam.

Danielle Miterrand disse que o principal objetivo do movimento é contextualizar internacionalmente a preocupação com os recursos hídricos. Ela acredita que o Rio tem grande potencial para se transformar num centro de reflexão sobre a preservação do meio ambiente.



A presidente da France-Libertés pretende fazer do Encontro Águas de Março, um evento anual. Ela também acha importante que questões como água e mudança climática sejam discutidas foram do contexto técnico para poder mobilizar os cidadãos.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Brasil dará Internet grátis a índios, quilombolas e pescadores

Quinta-feira 29 de Março, 2007

Por Andrea Welsh

BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil vai oferecer conexão gratuita à Internet por satélite para tribos indígenas da Amazônia e para outras comunidades, em mais um esforço para combater o desmatamento ilegal da floresta.

"É uma forma de abrir comunicações entre as comunidades indígenas, quilombos, quebradores de castanhas, pescadores ribeirinhos e o resto da sociedade", disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na quinta-feira, após assinar o acordo que põe o plano em vigor.

"Essas comunidades são os verdadeiros protetores das suas áreas", disse ela.

O projeto levará a Internet sem fio a 150 pequenas comunidades da Amazônia, do Pantanal e do sertão nordestino. Muitas dessas comunidades vivem isoladas devido à falta de infra-estrutura básica, como estradas.

Contribuir com a preservação do meio ambiente é um dos principais objetivos do programa. "A Internet nos ajudou a trazer a polícia (quando houve desmatamento ilegal na reserva)", disse Benhi Piyanko, que vive numa reserva habitada por 500 índios ashaninka no Acre. "Conseguimos passar a mensagem bem amplamente, atingimos até o presidente", afirmou.

O governo federal vai entrar com o acesso à Internet, mas caberá a prefeituras e governos estaduais conseguir os computadores.

Líderes indígenas apóiam o programa, mas temem que os computadores possam destruir as culturas dos mais de 200 povos nativos, disse Ailton Krenak, membro da Rede de Povos da Floresta. "Não gosto de computadores, mas também não gosto de aviões. O que se pode fazer?", questionou.

fonte: http://br.today.reuters.com/news/newsArticle.aspx?type=internetNews&storyID=2007-03-29T213554Z_01_B56262_RTRIDST_0_INTERNET-INDIOS-POL.XML&archived=False

quarta-feira, 11 de abril de 2007



Esse disco registrou o I Festival de Dança e Cultura Indígena da Serra do Cipó, realizado em setembro de 1998.

Ailton Krenak, o coordenador do Festival, apresenta o disco assim:
"O Festival de Dança e Cultura Indígena da Serra do Cipó é um encontro de tribos. Nosso culto aos ancestrais, a todos os seres da Criação. É nossa maneira de abraçar também os outros povos e culturas que vieram para cá um dia. Assim, estamos chegando das aldeias com os donos da festa para alegrar a montanha e seus espíritos ancestrais, guardadores das águas claras, no alto da Serra do Cipó

lista de músicas
Krenak
01. Theon Hô
02. Yrnõn Dhiuk Indhiak
03. Hô Nym Parem
04. Kicrok Tondon Nukuin
05. Nak Inhauit Borum Rerrê
06. Po Hamék
07. Taru Rundhium
08. Thi Ruhá Nim Nengãm
09. Kicrok Tondon Nukuin
Maxakali
10. Kuayakivi
Maxakali
11. Kumãtxu Preto
12. Yãmiy
13. Kumãtxu Vermelho
Pataxó
14. Mucará
15. Mirapê
16. Tapunahã
17. Dauê Maiô Inhê
18. Penaô Baixu
19. Hô Maracá Txé
20. Éke Iâ Dipê

“Acesso, mas com respeito à cultura ancestral”

Pinhais (PR) / 22.03.2006 - Os povos indígenas brasileiros decidiram se posicionar quanto às discussões da COP-8 em relação ao cobiçado acesso aos conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio genético de animais, plantas e microrganismos nativos.
Na manhã de hoje, representantes de comunidades de praticamente todas as regiões do país reunidos no Expo Trade Center, sede do encontro da Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB, em Curitiba, criaram o Fórum dos Povos Indígenas Brasileiros para a Biodiversidade.
O foco das ações é influenciar o Fórum Internacional dos Povos Indígenas - FIPI, criado em 2002, em Johanesburgo, durante a Rio+10. A instância mundial de representação indígena é um órgão de assessoramento do secretariado da CDB e recebia críticas de estar distante da realidade dos povos nativos brasileiros, conforme explicitou o líder indígena Ailton Krenak.
Para a representante do Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual – Ibrapi, Fernanda Kayngang, o instante é oportuno para que os povos indígenas brasileiros possam garantir os interesses das comunidades tradicionais no âmbito da CDB.
“Esse é um momento em que discutimos a implementação de um sistema internacional de acesso ao patrimônio genético e repartição de benefícios”, analisa. Segundo ela, as medidas a serem adotadas pela convenção mundial da biodiversidade só serão efetivas se contarem com a parceria dos povos tradicionais que conhecem, detém e ocupam as áreas de maior diversidade da Terra.

Fonte: http://www.cdb.gov.br/COP8/cop_news/201cacesso-sim-mas-com-respeito-a-nossa-cultura-ancestral201d

sábado, 7 de abril de 2007

Depoimento de Ailton sobre Chico Mendes

A melhor maneira de se entender um pouco o significado da luta de Chico Mendes é prestar atenção num pequeno episódio da nossa, índios e seringueiros, história recente. O Acre é uma região da Amazônia onde até a década de 70 não havia qualquer reconhecimento da existência das populações indígenas. As antigas áreas indígenas das doze tribos daquela região tinham se transformado em seringais sob controle dos coronéis da borracha e os índios em escravos destes seringais. Os seringueiros, historicamente, tinham se constituído numa espécie de guarda dos patrões no processo de domesticação dos índios e chegaram a ser aliciados para fazerem guerras punitivas contra grupos indígenas que se opunham aos patrões. Nos últimos dez anos, com a luta do movimento indígena pelo resgate de sua condição e retomada do domínio de seus territórios, o movimento dos seringueiros, liderado por Chico Mendes, teve a sensibilidade de superar esta histórica inimizade manipulada pelos patrões e lançar as bases da atual aliança dos povos da floresta, que o Chico resumia assim: "Nosso povo é o mesmo povo, nós não somos mais brancos. Temos uma cultura diferente da dos brancos e pensamos diferente dos civilizados. Aprendemos com os índios e com a floresta uma maneira de criarmos os nossos filhos. Atendemos a todas as nossas necessidades básicas e já criamos uma cultura própria, que nos aproxima muito mais da tradição indígena do que da tradição dos 'civilizados'. Nós já sabemos disto, agora o Brasil precisa saber disto. Nunca mais um companheiro nosso vai derramar o sangue do outro, juntos nós podemos proteger a natureza que é o lugar onde nossa gente aprendeu a viver, a criar os filhos e a desenvolver suas capacidades, dentro de um pensamento harmonioso com a natureza, com o meio ambiente e com os seres que habitam aqui."

1989

Fonte: http://www.chicomendes.org/chicomendes199.php