quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Expedição do Redescobrimento


Com malas nas mãos e muitas idéias na cabeça, os coordenadores dos pólos regionais da Expedição do Redescobrimento deixaram São Paulo no dia 6 de setembro, depois de 4 dias intensos de capacitação no Museu da Pessoa. A Expedição do Redescobrimento finalmente começou e nossos expedicionários estão extremamente empenhados nesta ação, prontos para descobrir muitos tesouros pelo Brasil afora.

A capacitação foi um momento muito importante de reflexão, troca de conhecimento, e vivências. Mais que revisitar o plano de ações proposto, o grupo vivenciou a metodologia de memória oral do Museu da Pessoa e discutiu como essa e outras metodologias poderão ser utilizadas durante os encontros da Expedição.
O grupo pôde praticar as técnicas de gravação de histórias de vida utilizadas pelo Museu da Pessoa com Ailton Krenak, importante líder indígena brasileiro e fundador da Rede de Povos da Floresta. Sua história inspiradora incentivou ainda mais o grupo a realizar este trabalho intenso e gratificante de mapear e conectar as iniciativas de memória brasileiras.

Atualmente os coordenadores dos pólos regionais estão mapeando iniciativas de memória em suas regiões para formação dos pólos, que terão cerca de 11 iniciativas participantes. Caso você tenha interesse em participar dos pólos regionais, escreva para expedicao@bmr.org.br.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

“Ainda estamos sujeitos a todo tipo de roubalheira”


Ailton Krenak, durante entrevista a Sidney Rezende, no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica)
Foto: Daniel Werneck

Ailton Krenak chegou para a entrevista de calça jeans, tênis, celular e agenda na mão. No pescoço e nos pulsos, adereços artesanais. No rosto, uma fisionomia que revela sua origem: a comunidade indígena Krenak, localizada no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Pisando no chão de madeira, no camarim, disse: “Isto é pinho. Mas não é de mata nativa não, ainda bem”. No discurso, quebra de estereótipos e uma fala nitidamente integrada ao mundo: “No Fórum Social Mundial, as pessoas gritavam ‘não à globalização’. É a mesma coisa que dizer ‘não ao efeito estufa’. Do que adianta gritar? O mundo vai voltar a ser bonitinho?”.

Em conversa com o jornalista Sidney Rezende na 5ª edição da Mostra Fica - Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, no auditório do Sesc, no Rio de Janeiro, o líder indígena demonstrou estar imerso na cultura dos brancos. A olho nu, Krenak parecia mais um índio de tradições devastadas pela “civilização”. A imagem de homem ingênuo, no entanto, desapareceu no decorrer do debate. Formado em jornalismo e design, o entrevistado mostrou que sua opção por viver em meio ao homem branco sempre esteve ligada à preservação de seus antepassados e ao resgate de sua identidade cultural. Suas ações são apoiadas justamente em recursos da sociedade dita civilizada.

Há um ano, os Krenak entraram com ação no Ministério Público por danos ambientais e morais pelas perdas físicas e culturais que seu povo sofreu durante o século XX, quando grandes empresas insistiam em desbravar suas terras impunemente. “Pedimos indenização, sim. Tudo não é dinheiro? Então vejam aí, na linguagem capitalista, quanto custou o que vocês fizeram”, criticou.

No início do século XX, os Krenak tinham uma população de cinco mil pessoas, número que se reduziu a 600 na década de 1920 e a 130 indivíduos em 1989. Eles viraram o século com cerca de 150 indivíduos. Engajado nas causas políticas em favor dos povos indígenas, ele acredita que o governo ainda tem muito a fazer para proteger essas comunidades. “Até hoje o Brasil não conseguiu disciplinar-se em relação a isso. Ainda estamos sujeitos a todo tipo de roubalheira”, lamentou.

Consciente dos avanços tecnológicos, o líder não repudia sua emancipação, mas acredita que ela pode ser usada de maneira mais inteligente. “A natureza tem capacidade de gerar riquezas para o ser humano, que tem como desenvolver uma relação harmoniosa entre natureza e tecnologia. Não precisava ter transformado rios em esgotos, oceanos em poças de produtos químicos. Não podemos estigmatizar a tecnologia como algo maléfico. O negócio é não instruentalizá-la para algo ruim”, comentou. “Estamos todos avassalados pelo mercado, o mundo é movido por ele. Isso está acabando com as culturas tradicionais.”

Por causa dessa lógica capitalista, ele também questionou a atuação de grupos ambientalistas. “Quem sustenta as ONGs hoje são empresas. Quem paga os secretários de meio ambiente são os empreendedores. Não podemos nos iludir. Eles agem subordinados a isso”, comentou. Krenak revelou que a velha prática de mercado conhecida como escambo (troca de bens) ainda persiste nas comunidades. “Presenteando” os índios com celulares e equipamentos de última geração, madeireiros conseguem agilizar seu comércio ilegal.

Ele reafirmou a teoria de que a “lógica perversa” do mercado está gerando os grandes impactos ambientais na Terra. “O planeta está em convulsão pelo ‘barulho’ que fizemos aqui”, disse, finalizando o papo com a típica visão de quem não mantém uma relação de superioridade com a natureza. “Se o planeta cuspir todos nós, a biodiversidade não vai sentir falta”.

Leia mais sobre o evento no Blog do Sidney Rezende: Indíos e brancos: a modernidade a serviço do crime.

FONTE:www.sidneyrezende.com/blog/index.php?page=6

sábado, 7 de julho de 2007

Taru Andé ganha prêmio internacional
A série Taru Andé - o encontro do céu com a terra, exibida pelo Canal Futura desde novembro de 2006, foi premiada pelo IX Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental - FICA, realizado na cidade de Goiás Velho (GO) entre 12 e 16 de junho.
Taru Andé concorreu com a série austríaca Nature Tech, dirigida por Alfred Vendl e Steve Nicholls, que fala sobre o futuro das tecnologias para a preservação da natureza. A série recebeu um prêmio de 25 mil reais.

O júri do festival foi composto por importantes personalidades do audiovisual e da área ambiental em todo o mundo.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

[histórico] Conversa de Índio de Verdade

Por: Amália Souza
Há exatamente uma década, dois índios, um da América do Sul e outro da América do Norte, se encontraram em Washington DC -- Ailton Krenak, índio Krenak do Vale do Rio Doce, que na ocasião recebia um prêmio de Direitos Humanos, e Thomas Banyachia, o último sobrevivente do Grande Conselhode Anciões do povo Hopi. Por uma felicidade do destino era a minha a voz que traduzia a conversa desses dois visionários de nossos tempos. Gostaria de compartilhar o que aprendi.

Conversavam sobre as ameaças à continuidade da vida na terra como a conhecemos, sobre a direção que tomamos e o que é preciso para reverter esse processo. Suas palavras falavam de preocupação, mas também esperança.


Para entendê-las melhor, antes precisamos começar de uma base comum. A primeira é que sempre que falamos de meio ambiente, apontamos para longe, para um lugar lá fora --o mato, a grama do jardim, o passarinho. Mas quase nunca nos lembramos de apontar para nós mesmos - os seres humanos -- tão parte desse emaranhado, dessa teia interdependente que mantém a vida desse planeta, e tão dependentes dela como qualquer outro animal, ou planta, água, terra, fogo e ar. Somos feitos, todos nós, dos mesmos elementos químicos, em composições e combinações diferentes. E só sobrevivemos por fazer parte desta incrível e sofisticada simbiose. Nunca independentes dela. A segunda é que, por isso, não podemos nos extrair desse ambiente -- não podemos viver sem essa teia. Consumir como consumimos, despedirçar como desperdiçamos só nos leva a um resultado - o colapso desse sistema tão integrado, e ao mesmo tempo tão frágil.

Se revertemos esse processo destruidor em tempo, temos alguma chance de sobreviver com saúde. Se não o revertemos, nossas vidas se tornarão cada vez mais miseráveis. Portanto, a mudança tem que partir de ações individuais que se refletem no coletivo. Como diz Margareth Mea, "Nunca menospreze o poder dos indivíduos de provocar mudanças no mundo. Realmente, é a única coisa até hoje que já foi capaz de fazê-lo."

Com isto, voltamos a nossa estória...

Thomas contava a história de seu povo, e de todos os de pele vermelha, e dava um aviso. Segundo os Hopi, todos os povos de pele vermelha vêm de uma mesma família. Em algum momento, grupos foram incumbidos de viajar, cada um para uma direção, levando consigo um manto sagrado que deveriam enterrar no lugar que escolhessem habitar. Desse lugar não deveriam mais sair, mas protegê-lo com suas vidas.

Segundo a tradição, esses grupos viveriam isolados por milhares de anos. Mas um momento chegaria, um momento importante para o Planeta Terra, um momento de grandes mudanças e de profundas transições, em que eles deveriam unir-se novamente. Quando os pele vermelha começassem a se re-encontrar, seria para cumprir sua máxima missão, de apaziguar a Grande Mãe para que tenha piedade desse pobre povo que causou tanta destruição. "Quando a Terra começar a reagir por todo o mal trato que recebeu, não adianta correr para a ONU", dizia, "só nós, os pele vermelha, sabemos falar sua língua."

Ailton, aquele índio que pintou a cara de preto em sinal de luto por seu povo no Senado Federal durante a constinuinte, falava de responsabilidade de Ser Humano. Dizia: "já não temos tempo para sonhar... por isso já não ouvimos as mensagens da Terra. Mas, se todas as manhãs, nos olharmos no espelho, e nos vestirmos com a responsabilidade de Seres Vivos do Planeta Terra que somos, vamos nos lembrar de tomar as rédeas do nosso futuro novamente. Sobreviver não é o mesmo que viver. O índio [e certamente todo ser que vive neste planeta] quer viver, não sobreviver. Se não temos acesso às nossas terras, a água e ar puros, a comida limpa, não estamos vivendo como merecemos. Vivemos hoje como se tivéssemos uma seringa constantemente chupando nosso sangue, gota a gota. Nos esquecemos que nem sempre as coisas foram assim. Tudo isso é muito recente! Ainda podemos nos lembrar de lugares de água limpa. Ainda podemos nos lembrar do canto dos pássaros, do cheiro de mato."

Não é tarde demais para reverter esse processo, se realmente quisermos. Mas para isso, temos que acordar desse pesadelo, dessa ilusão de consumismo e principalmente de impotência. Nossa autoridade de seres planetários nos investe do poder de dizer "NÃO!". É hora de começar.

A Riqueza e a Herança Cultural Indígena

por Ailton Krenak

Nas nossas tribos, nas nossas aldeias a riqueza é sempre vista como alguma coisa que merece ser partilhada. Sempre que a riqueza for um sinal particular, um sinal de ressaltar a individualidade, ela é condenada. Quando começa a haver riqueza individual tem um instrumento muito bacana que é o seguinte: o povo vai identificando o ponto de aglutinação da riqueza, o ponto de perigo da riqueza. Aí eles vão lá, cercam a casa daquele cara que está começando a expressar sinais de riqueza excessiva, fazem uma festa e bebem e comem tudo o que o cara tem. A festa vai durar enquanto tiver ceroula, uma tanga. Quando terminar a festa aquele cara é o irmãozinho mais humilde, despojado, de toda a tribo. Agora ele vai ser aquele que todo mundo acolhe, dá comida e ajuda, para se reeducar.

Tem uma coisa muito interessante nestas cerimônias todas. Tem um mestre de cerimônia, tem um dono da festa. O que foi expropriado da última festa recebe um bastão e vai ser o dono da próxima festa. Ele que levou a maior blitz social estará ligado ao menor sinal de riqueza que ele observar nos irmãozinhos. Cria-se um eixo de vigilância sobre a riqueza alheia. Esta é uma grande inteligência da tradição.

FONTE: Rede Mundial de Artistas em Aliança
http://www.redemundialdeartistas.org.br/twiki/bin/view/Mural/MuralAiltonKrenak

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Dia de Índio: Por Quê?


Texto de autoria de Adir Casaro Nascimento, professora universitária e consultora ministerial para questões de educação indígena.

Fonte: http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=1134

"Por que se comemora a presença do índio em território brasileiro, ou se faz um esforço para que o índio seja lembrado e até exaltado a todo dia 19 de abril se o índio incomoda a tantos cidadãos brasileiros? A sociedade em geral o vê como uma personagem folclórica, de histórias antigas e de alguém que não cresceu e não evoluiu como os outros homens dessa nação; os grupos económicos os vêm como improdutivos, como atraso e impecilho para a realização de projetos desenvolvimentistas e de acúmulo de capital; os governantes sentem grande dificuldade em cumprir os direitos adquiridos, com a Constituição de 1988 e os seus desdobramentos, em especial ao que se refere à demarcação de terra e políticas públicas em educação. Se o índio é mais um problema do que reconhecidamente um cidadão, então por que comemorar?
Essa é aparentemente uma contradição. Aparentemente pois se para os imediatistas o índio é um entrave para os projetores do futuro o índio é, no bom sentido, uma necessidade, uma resposta positiva: uma necessidade político-cultural tendo em vista a sua forma de organização social e seus princípios de convivência com o outro; uma necessidade ecológica já que a sua presença garante a preservação da natureza, a vida da biodversidade e uma necessidade científica pois, dificilmente se conseguirá "capitanear"os conhecimentos produzidos pelas tradições indígenas sem que os mesmos requeiram a autoria e identidade neste processo.
Apesar dessa quase profecia com relação a importância dos povos indígenas na projeção de uma nova sociedade é certo que, quer pela história de longa duração, quer pelas expectativas de futuro o índio não tem muito o que comemorar: nem no "seu" dia e muito menos nos 500 anos, a não ser o fato de ter construído, em um longo processo de resistência que teve nuances e dinâmicas diferentes no decorrer da história de contato, a consciência da própria condição e com isso instrumentalizar-se e serem protagonistas que exigem respeito e até um certo temor no contexto da história atual. O mundo inteiro tem os olhos voltados para os índios da América Latina e notadamente do Brasil.
O Mato Grosso do Sul que tem a segunda maior população indígena aldeada do país tem uma historiografia de indiferença, descaso e expropriação dos seus povos indígenas. A história de constituição do homem sulmatogrossense não considera o índio nessa composição; o desenvolvimento económico do Estado "ignorou" a presença indígena em todo seu território e permitiu o seu confinamento para que os projetos de expansão e extração pudessem ser realizados e, com relação às políticas públicas, o Estado sempre governou, até pelo menos os meados da década de 90 como se aqui não existissem índios. Com relação à educação escolar o Estado vem buscando assumir com responsabilidade e profissionalismo a implantação e melhoria da qualidade das escolas indígenas em parceria com as prefeituras bem como desenvolvendo projeto de capacitação dos professores-índios, com destaque ao Curso de Magistério Específico aos Professores-Índios Guarani/Kaiova que deve habilitar 80 professores . Estes projetos têm contado com a participação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, da Universidade Católica Dom Bosco e da Diocese de Dourados.
Ter um dia para comemorar significa que a sociedade tem consciência da marginalização, da exclusão a que os índios foram e são submetidos. Outrora explicitamente, hoje ideologicamente onde discursos e ações não se encontram e estas significam muito mais um rearranjo, uma outra dimensão de colonização do que possibilidades de autonomia dos povos indígenas. Porém esta mesma história de contato permitiu aos índios usufruir de espaços como estes para revelarem que, como sujeitos históricos, participantes ativos deste processo, eles também aprenderam a se organizar, a se mobilizar e em uma capacidade muito grande de superação usar recursos de sua tradição e aqueles aprendidos dos "brancos" fazerem-se presentes, com dignidade, no seu "dia". Reverteram a história."

quarta-feira, 18 de abril de 2007

[histórico] Edição 2003 do Prêmio Direitos Humanos homenageia FOIRN e Ailton Krenak


O Dia Internacional dos Direitos Humanos (10/12) reuniu no Palácio do Planalto quase todos os ministros de Estado para a entrega do Prêmio Direitos Humanos 2003. As homenagens foram feitas a personalidades e instituições que se destacaram na defesa dos Direitos Humanos. A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro e o líder indígena Ailton Krenak ganharam na categoria Comunidades Indígenas.


Criado em 1995 por determinação do Presidente da República, o prêmio Direitos Humanos é uma honraria do Governo Federal concedida a pessoas e instituições cujas ações pelos direitos humanos sejam dignas de reconhecimento e valorização por toda a sociedade brasileira. Em 2003, foram instituídas 12 categorias de premiação, nas quais foram apresentadas centenas de indicações vindas de todo o país.
Comunidades Indígenas

A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – Foirn – foi vencedora na categoria Comunidades Indígenas por conta do trabalho que vem desenvolvendo com as comunidades indígenas da região tais como a piscicultura com espécies de peixes nativos, avicultura em sistema semi-aberto, agricultura tradicional, produção e comercialização de artesanato. Além disso, a Foirn foi apresentada como a entidade que apóia mais de 200 professores indígenas da região na realização de assembléias e cursos com o objetivo de promover a educação diferenciada dos povos indígenas. Outro destaque lembrado na cerimônia, sobre o trabalho da Foirn, foi o projeto Cidadania Indígena do Rio Negro, com atuação itinerante, que realiza campanhas para fornecer documentação civil básica e leva orientação sobre direitos às comunidades indígenas.
Ailton Krenak, homenageado como personalidade na categoria Comunidades Indígenas reconhecida dentro e fora do Brasil, também estava emocionado. Ele participou intensamente de todo o processo de elaboração do texto constitucional de 1988, e fundou o Núcleo de Cultura Indígena. Também criou e dirigiu o Centro de Pesquisa Indígena e o Núcleo de Direitos Indígenas -NDI. Ailton foi apresentado como uma grande liderança indígena. "A sabedoria de Ailton Krenak está contida na sua atuação política da União das Nações Indígenas - UNI-, cuja intervenção é hoje decisiva não apenas para os povos indígenas mas para o conjunto da sociedade civil brasileira."

domingo, 15 de abril de 2007

Danielle Miterrand participa de ritual indígena pelo Dia Mundial da Água

22/03/2007

Pajelança abriu último dia de evento ambiental no Jardim Botânico.
Entidade francesa financiou programa de ONG brasileira.
Alba Valéria Mendonça Do G1, no Rio

As celebrações pelo Dia Mundial da Água começaram cedo, nesta quinta-feira (22), no Rio de Janeiro. Na Fundação Jardim Botânico, no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, a ex-primeira dama da França, Danielle Miterrand, presidente da Fundação France-Libertés participou de um ritual indígena, numa pequena cachoeira.



Os pajés Ailton Krenak, de Minas Gerais, Benki Ashaninka e Leopardo Bane, ambos do Acre, cantaram e fizeram um ritual diante de uma pequena cachoeira do parque.

A pajelança abriu o segundo e último dia de debates do Encontro Águas de Março, no Espaço Tom Jobim, no parque. No encontro, autoridades e ambientalistas discutiram estratégias sobre manuseio e preservação da água. No evento, Danielle Miterrand lançou o movimento Porteurs D´Eau (Mensageiros da Água), que desde novembro do ano passado vem realizando um trabalho de conscientização na França e no Canadá sobre o melhor aproveitamento dos recursos hídricos.

No Brasil, o movimento financiou o programa de preservação do meio ambiente da Fundação Gol de Letra, dos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo. Foi produzido um vídeo com as crianças assistidas pelo projeto, que mostra a degradação da Praia do Caju, na Zona Portuária do Rio. O local era o balneário preferido de D. João VI.

O pajé Krenak lembrou que para a maioria das culturas indígenas, a água é considerada um espírito, que concede vida a todos os seres que a rodeiam. Ele lamentou que as antigas gerações não tenham atentado para a importância da preservação dos recursos hídricos do planeta. Já Benki, entoou um cântico de sua tribo que fala de pássaros que se banham em rios espalhando alegria por onde voam.

Danielle Miterrand disse que o principal objetivo do movimento é contextualizar internacionalmente a preocupação com os recursos hídricos. Ela acredita que o Rio tem grande potencial para se transformar num centro de reflexão sobre a preservação do meio ambiente.



A presidente da France-Libertés pretende fazer do Encontro Águas de Março, um evento anual. Ela também acha importante que questões como água e mudança climática sejam discutidas foram do contexto técnico para poder mobilizar os cidadãos.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Brasil dará Internet grátis a índios, quilombolas e pescadores

Quinta-feira 29 de Março, 2007

Por Andrea Welsh

BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil vai oferecer conexão gratuita à Internet por satélite para tribos indígenas da Amazônia e para outras comunidades, em mais um esforço para combater o desmatamento ilegal da floresta.

"É uma forma de abrir comunicações entre as comunidades indígenas, quilombos, quebradores de castanhas, pescadores ribeirinhos e o resto da sociedade", disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na quinta-feira, após assinar o acordo que põe o plano em vigor.

"Essas comunidades são os verdadeiros protetores das suas áreas", disse ela.

O projeto levará a Internet sem fio a 150 pequenas comunidades da Amazônia, do Pantanal e do sertão nordestino. Muitas dessas comunidades vivem isoladas devido à falta de infra-estrutura básica, como estradas.

Contribuir com a preservação do meio ambiente é um dos principais objetivos do programa. "A Internet nos ajudou a trazer a polícia (quando houve desmatamento ilegal na reserva)", disse Benhi Piyanko, que vive numa reserva habitada por 500 índios ashaninka no Acre. "Conseguimos passar a mensagem bem amplamente, atingimos até o presidente", afirmou.

O governo federal vai entrar com o acesso à Internet, mas caberá a prefeituras e governos estaduais conseguir os computadores.

Líderes indígenas apóiam o programa, mas temem que os computadores possam destruir as culturas dos mais de 200 povos nativos, disse Ailton Krenak, membro da Rede de Povos da Floresta. "Não gosto de computadores, mas também não gosto de aviões. O que se pode fazer?", questionou.

fonte: http://br.today.reuters.com/news/newsArticle.aspx?type=internetNews&storyID=2007-03-29T213554Z_01_B56262_RTRIDST_0_INTERNET-INDIOS-POL.XML&archived=False

quarta-feira, 11 de abril de 2007



Esse disco registrou o I Festival de Dança e Cultura Indígena da Serra do Cipó, realizado em setembro de 1998.

Ailton Krenak, o coordenador do Festival, apresenta o disco assim:
"O Festival de Dança e Cultura Indígena da Serra do Cipó é um encontro de tribos. Nosso culto aos ancestrais, a todos os seres da Criação. É nossa maneira de abraçar também os outros povos e culturas que vieram para cá um dia. Assim, estamos chegando das aldeias com os donos da festa para alegrar a montanha e seus espíritos ancestrais, guardadores das águas claras, no alto da Serra do Cipó

lista de músicas
Krenak
01. Theon Hô
02. Yrnõn Dhiuk Indhiak
03. Hô Nym Parem
04. Kicrok Tondon Nukuin
05. Nak Inhauit Borum Rerrê
06. Po Hamék
07. Taru Rundhium
08. Thi Ruhá Nim Nengãm
09. Kicrok Tondon Nukuin
Maxakali
10. Kuayakivi
Maxakali
11. Kumãtxu Preto
12. Yãmiy
13. Kumãtxu Vermelho
Pataxó
14. Mucará
15. Mirapê
16. Tapunahã
17. Dauê Maiô Inhê
18. Penaô Baixu
19. Hô Maracá Txé
20. Éke Iâ Dipê

“Acesso, mas com respeito à cultura ancestral”

Pinhais (PR) / 22.03.2006 - Os povos indígenas brasileiros decidiram se posicionar quanto às discussões da COP-8 em relação ao cobiçado acesso aos conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio genético de animais, plantas e microrganismos nativos.
Na manhã de hoje, representantes de comunidades de praticamente todas as regiões do país reunidos no Expo Trade Center, sede do encontro da Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB, em Curitiba, criaram o Fórum dos Povos Indígenas Brasileiros para a Biodiversidade.
O foco das ações é influenciar o Fórum Internacional dos Povos Indígenas - FIPI, criado em 2002, em Johanesburgo, durante a Rio+10. A instância mundial de representação indígena é um órgão de assessoramento do secretariado da CDB e recebia críticas de estar distante da realidade dos povos nativos brasileiros, conforme explicitou o líder indígena Ailton Krenak.
Para a representante do Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual – Ibrapi, Fernanda Kayngang, o instante é oportuno para que os povos indígenas brasileiros possam garantir os interesses das comunidades tradicionais no âmbito da CDB.
“Esse é um momento em que discutimos a implementação de um sistema internacional de acesso ao patrimônio genético e repartição de benefícios”, analisa. Segundo ela, as medidas a serem adotadas pela convenção mundial da biodiversidade só serão efetivas se contarem com a parceria dos povos tradicionais que conhecem, detém e ocupam as áreas de maior diversidade da Terra.

Fonte: http://www.cdb.gov.br/COP8/cop_news/201cacesso-sim-mas-com-respeito-a-nossa-cultura-ancestral201d

sábado, 7 de abril de 2007

Depoimento de Ailton sobre Chico Mendes

A melhor maneira de se entender um pouco o significado da luta de Chico Mendes é prestar atenção num pequeno episódio da nossa, índios e seringueiros, história recente. O Acre é uma região da Amazônia onde até a década de 70 não havia qualquer reconhecimento da existência das populações indígenas. As antigas áreas indígenas das doze tribos daquela região tinham se transformado em seringais sob controle dos coronéis da borracha e os índios em escravos destes seringais. Os seringueiros, historicamente, tinham se constituído numa espécie de guarda dos patrões no processo de domesticação dos índios e chegaram a ser aliciados para fazerem guerras punitivas contra grupos indígenas que se opunham aos patrões. Nos últimos dez anos, com a luta do movimento indígena pelo resgate de sua condição e retomada do domínio de seus territórios, o movimento dos seringueiros, liderado por Chico Mendes, teve a sensibilidade de superar esta histórica inimizade manipulada pelos patrões e lançar as bases da atual aliança dos povos da floresta, que o Chico resumia assim: "Nosso povo é o mesmo povo, nós não somos mais brancos. Temos uma cultura diferente da dos brancos e pensamos diferente dos civilizados. Aprendemos com os índios e com a floresta uma maneira de criarmos os nossos filhos. Atendemos a todas as nossas necessidades básicas e já criamos uma cultura própria, que nos aproxima muito mais da tradição indígena do que da tradição dos 'civilizados'. Nós já sabemos disto, agora o Brasil precisa saber disto. Nunca mais um companheiro nosso vai derramar o sangue do outro, juntos nós podemos proteger a natureza que é o lugar onde nossa gente aprendeu a viver, a criar os filhos e a desenvolver suas capacidades, dentro de um pensamento harmonioso com a natureza, com o meio ambiente e com os seres que habitam aqui."

1989

Fonte: http://www.chicomendes.org/chicomendes199.php

terça-feira, 13 de março de 2007

Último Episódio de Taru Andé




Taru Andé: Aventura cultural na selva amazônica
por Lívia Raick *


Uma equipe do Canal Futura foi conferir de perto as gravações do último episódio de Taru Andé. O programa narra a história e o dia-a-dia de 13 aldeias indígenas, pelo Brasil.

Juntos com o índio Ailton Krenak, o cineasta Marco Altberg e o diretor de fotografia Tota Paiva, todos da produtora Maltberg, começamos logo cedo já na correria, para filmar a aldeia Arara do Acre. As gravações começam logo pela manhã e vão até o final da noite. Em cada conversa, em cada momento, ao lado dos índios, uma nova descoberta, um ângulo diferente de uma história tão pouco conhecida por nós. Nas andanças, um mundo novo se desvenda. É a natureza sendo vista bem de perto, em viagens de canoa, trilhas em meio à floresta, banhos de rio. Tudo é uma grande aventura. Sair de uma cidade como o Rio de Janeiro e ir para uma aldeia indígena, comer comidas exóticas, viver por alguns dias submerso em uma cultura diferente faz da viagem uma experiência antropológica fantástica.




Para chegar à tribo Arara do Acre partimos de uma cidadezinha bem pequena chamada Porto Valter, que fica a uma hora de avião de Cruzeiro do Sul. De lá pegamos uma canoa motorizada que nos levou pelo rio Juruá, em mais uma viagem, agora de aproximadamente quatro horas. Em todo percurso, muito verde e animais exóticos. Muitas fotos e um longo momento de reflexão. Uma calma e um silêncio raramente vividos nas grandes cidades.

Nossa chegada à aldeia foi uma mistura de adrenalina e muita curiosidade. E é nos pequenos detalhes que a câmera vai filmando a intimidade de um povo receptivo e carente de maiores incentivos e divulgação. Com uma história rica de Brasil, nas suas músicas, suas lendas, suas danças, os índios mostram sua sabedoria. Utilizam-se da natureza para sua alimentação e saúde, tendo nela remédios para praticamente todos os seus males. Há mais espécies de remédios da natureza, como eles próprios chamam, do que se pode imaginar. Além disso, eles procuram nos mais velhos a sabedoria de vida que rege o seu dia-a-dia.

Enfim, estar com profissionais renomados, como o cineasta Marco Altberg, e com o índio Ailton Krenak, foi uma experiência à parte. Com eles, aprendi um olhar mais humano e respeitoso sobre as diferentes culturas existentes. E é isso que Taru Andé vem tentar mostrar. Uma história por um ângulo bem diferente. A abertura de um espaço para que o índio fale sobre ele mesmo.

O episódio Arara do Acre mostra como índios que perderam por muito tempo o direito de viver sua cultura, escravizados por seringueiros, deram a volta por cima e hoje lutam para recuperar por completo sua história. Então, não percam! Domingo, dia 11, às 22h, mais um episódio de Taru Andé. E até a próxima aventura!

* Lívia Raick é assessora de imprensa do Canal Futura




FONTE: Site do Canal FUTURA

segunda-feira, 12 de março de 2007

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007


Atas Indigenistas
Depoimento Ailton Krenak
31/07/86

“O advento da Nova República teria passado desapercebido no tocante a uma política do Estado brasileiro, para populações indígenas, se não fosse o esforço que os próprios índios estão realizando, estão fazendo, no sentido de avançar algumas coisas, de avançar alguns pontos. Isso na medida em que o Estado, quando foi interpelado pelos índios nas várias ocasiões, desde o período de novembro de 1984, quando nós realizamos um Simpósio aqui no Congresso, em Brasília, na Câmara dos Deputados. Nessa ocasião, nós buscamos foi uma iniciativa da União das Nações Indígenas e de outros setores da sociedade civil, tentarmos fazer com que o novo poder político que se articulava para ocupar os Ministérios, a Presidência da República tendo à frente o Tancredo Neves, assumisse conosco uma proposta pública de reestruturação do órgão que executa a política indigenista, e de redefinição por parte dos vários Ministérios que definem a política do governo brasileiro no tocante às Comunidades Indígenas. Uma de nossas reivindicações era a de que o Estado brasileiro e de que o governo brasileiro assumissem conosco a tarefa de redefinir uma política em relação às populações indígenas contemplando aspectos como saúde, educação, a questão mesmo das relações dos vários setores da sociedade brasileira com as diversas comunidades indígenas, porque cada uma tem sua especificidade; os recursos que o governo passa ou repassa para órgãos federais e que são de certa forma destinados a programas junto às populações indígenas e às comunidades indígenas, não têm o menor controle sobre a aplicação desses recursos. Então na verdade, seria tentar disciplinar a relação do Estado com as comunidades indígenas e até mesmo instrumentalizar o Estado e criar dentro do Estado instâncias competentes, instâncias modernas, instâncias contemporâneas da realidade que o povo indígena busca e luta, para que a gente pudesse ter uma convivência pacífica, para que a gente pudesse ter uma convivência que não fosse tão calhorda, que não fosse uma convivência tão mesquinha, onde os índios são constantemente surrados, mortos, expulsos, banidos de seus territórios. Mas onde essas pequenas comunidades, onde essas pequenas sociedades tivessem a certeza de que o poder público estaria zelando pela segurança do seu meio-ambiente, da forma de se organizar socialmente e que principalmente, esse poder público não significasse o tempo todo uma ameaça prestes a se abater sobre aquela comunidade e com objetivo o tempo inteiro explícito de transformar aquela comunidade numa vila, numa agrovila, qualquer coisa mais parecida com que eles chama de civilizado – que é em última instância a postura do Estado brasileiro, que é uma postura integracionista, que o Brasil firma junto com outros países, quando assina por exemplo a Convenção 107, que é uma Convenção que tem um caráter eminentemente integracionista e nós somos contra essa Convenção. Somos contra não a essa Convenção, mas somos contra o propósito de qualquer Estado de querer integrar qualquer pessoa – seja um índio, seja um negro, seja o que for. Nós achamos que o Estado deve ser o tempo inteiro controlado pelas sociedades, e não o inverso. O Estado não tem que arbitrar a vida das pessoas, o Estado tem que ser alguma coisa a serviço do ser humano. Então era isso que nós queríamos do Estado brasileiro, independente de ser Velha ou Nova República. Agora, como havia um ensaio da Nova República nós entramos lá desafinando o coro dos contentes, querendo que eles respeitassem a nossa especificidade e fizemos um programa, fizemos uma proposta que tomou o nome de “Propostas para uma Nova Política Indigenista” e que foi resultado de um Simpósio que teve o pomposo nome de “O Índio e o Estado” promovido pela Fundação Pedroso Horta e por outros organismos, não governamentais. O Presidente Tancredo Neves nos recebeu em cerimônia, entregamos o documento, eu, Ailton Krenak, entreguei esse documento na mão do Sr. Tancredo Neves, com testemunha de outros parlamentares e a imprensa brasileira. Saímos estampados nas manchetes de Brasília e na Rede Globo, mas a Nova República parece que não teve fôlego para cumprir aquelas promessas que eram as promessas de acatar aquele documento, de realmente realizar uma reestruturação da política indigenista, discutir com povos indígenas, com as comunidades indígenas uma nova forma de relacionamento. Hoje, há aproximadamente seis meses desse trâmite todo junto à Nova República, nós constatamos que a gente tem ainda um órgão de governo que é a Fundação Nacional do Índio, tomada por pessoas extremamente comprometidas com uma política de franco desrespeito às comunidades indígenas, que discrimina a participação do índio no debate das questões que são pertinentes a índios, que exclui as lideranças indígenas dos processos de decisão; esse órgão, que não discute com essas comunidades indígenas sequer o orçamento anual do órgão, e que adota realmente uma atitude das velhas agências que a Inglaterra e a França usaram para colonizar a Argélia, a Índia, as nações africanas. Então eles insistem em nos tratar como menores de idade, como tutelados, como seres desprovidos de qualquer maturidade, de qualquer capacidade, de qualquer articulação que nos qualificasse para uma relação de igualdade, mesmo que essa relação de igualdade – e é uma defesa que eu faço constante tenha como base o caráter plural, o caráter da diferença, o caráter de outro; que eles possam sempre entender isso. Mas a luta continua. A União das Nações Indígenas na última assembléia que realizamos que foi nos dias 09 a 10 de junho, em Goiânia, tirou um documento final no qual 32 Nações Indígenas afirmam que o órgão máximo das comunicações indígenas é o Conselho Indígena Nacional, e o órgão da União das Nações Indígenas é que vai tirar as políticas para a população indígena, e que uma eventual agência do governo vai ser provedor do ponto de vista da matéria, e do ponto de vista da execução, das políticas, que nós definirmos. Agora, se o Estado brasileiro, se os Ministérios a quem essa política está por enquanto atrelada, não tem ainda maturidade para dialogar com o Conselho Indígena Nacional, nós vamos ter que fazer uma espécie de programa intensivo de educação para ver se a gente consegue madurar a cabeça desses técnicos do governo, sensibilizar essas pessoas de que nós já esperamos muito. Nosso povo espera há 480 anos que os homens que dirigem esse país se tornem maduros o suficiente para sentar conosco sem insegurança, de conversar conosco sem medo sobre as expectativas que nós temos, sobre o que nós sentimos e o que nós esperamos deles como dirigentes da grande nação brasileira que nós amamos, que nós consideramos e que nós queríamos ver uma Nação generosa, uma Nação capaz de comportar no seu seio essa diversidade cultural, essa pluralidade e nos tornar um povo mais feliz.
Se, por um lado, o órgão que deveria estar buscando realizar uma política voltada para as populações indígenas que é vinculada ao Ministério do Interior tem se omitido, assim como o Ministério do Interior tem se omitido, em relação a um compromisso com as populações indígenas, nós temos sentido sinais de simpatia por parte de Ministérios que são de certa forma, que eram de certa forma, até agora, alheios à questão indígena. Então nós temos agora junto ao Ministério da Cultura uma Assessoria de Assuntos Indígenas, que se ainda não teve seu perfil definido, seu caráter definido, pelo menos já se garantiu junto a esse Ministério um espaço, que é esse, dessa Assessoria de Assuntos Indígenas; eu acho isso importante, eu acho que as populações indígenas no Brasil devem tomar esse espaço, ocupar esse espaço, e eu creio que o maior comprometimento do Ministério da Educação e do Ministério da Cultura com a questão das comunidades indígenas pode dar um novo alento às populações indígenas na busca de um maior apoio e de um maior acatamento do Estado brasileiro, do governo brasileiro, das reivindicações e das expectativas das populações indígenas. Agora eu creio que tudo isso é muito novo e nós vamos te que buscar dar resposta a essa simpatia de alguns setores da Nova República à questão indígena e fazer um esforço no sentido de que setores como o Ministério do Interior, que já tem, por definição, um dever de cumprir uma política em relação às populações indígenas, se definam e venham a público colocar sua posição, porque até agora o Ministério do Interior tem sido omisso nesse sentido.”

Ailton Krenak
Coordenador da Regional Sul
União das Nações Indígenas – UNI
BsB, 31-07-86

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Programaçao Taru Andé para março

Sexta, 02/03/2007
20:30 - Suruí - O povo Tembetá
Domingo, 04/03/2007
22:00 - Poianawa - O Sonho de um Povo
Sexta, 09/03/2007
20:30 - Poianawa - O Sonho de um Povo
Domingo, 11/03/2007
22:00 - Arara - O Povo Shawandawa
Sexta, 16/03/2007
20:30 - Arara - O Povo Shawandawa
Domingo, 18/03/2007
22:00 - Xavante - O povo do cerrado
Sexta, 23/03/2007
20:30 - Xavante - O povo do cerrado
Domingo, 25/03/2007
22:00 - Xakriabá - O Povo Invisível
Sexta, 30/03/2007
20:30 - Xakriabá - O Povo Invisível

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Taru Andé - Programaçao de fevereiro




Sexta, 16/02/2007
20:30 - Ashaninka - Os filhos de Pauwa
Sexta, 23/02/2007
20:30 - Pataxó - O Povo das Águas
Domingo, 25/02/2007
22:00 - Suruí - O povo Tembetá

Curiosidade:
Um krenak na Rússia

Apresentador da série de documentários Taru Andé, Aílton Krenak conta que seu povo herdou este nome do capitão Krenak, que defendeu a sobrevivência do clã até a virada do século XIX para o XX, em sangrentas batalhas com o homem branco. Os Krenak são na verdade índios da família Aymoré, que se espalhava por toda a região Sudeste.

Mais do que um líder de seu povo, Aílton há tempos se destaca na defesa das culturas indígenas de todo o país. Já na Constituinte de 1988, foi importante articulador para a inclusão dos direitos especiais dos índios, até então praticamente ausentes da legislação. Mas dificilmente imaginou que sua idéia de unir os povos indígenas no Taru Andé fosse levá-lo tão longe quanto à Rússia.

Pois é lá que estão guardados, há um século, registros inéditos dos Krenak feitos em uma expedição científica. O documentário dedicado à sua etnia acompanha Aílton até São Petersburgo, onde ele conheceu pessoalmente os manuscritos, fotografias, ilustrações (à direita), objetos, partituras e até restos mortais de seus antepassados. “Tudo isso dá sentido para nossa identidade e reforça a auto-estima de meu povo. Chegamos ao século XXI com nossa história consolidada, depois de quase desaparecer no século XX”, conta, orgulhoso.



A fé de quem tem razão

O problema é que, para sobreviver, os Krenak não dependem apenas da manutenção de sua cultura e seu território. Enquanto para eles o Watú (Rio Doce) é sagrada fonte de vida, do lado de fora da reserva indígena a saúde das águas é cada vez mais frágil. Aílton reconhece que o Rio Doce vem sofrendo com o acúmulo de metais pesados, até mesmo mercúrio, lançados pela indústria siderúrgica e de mineração.

Mas este é assunto delicado quando se trata de defender as crenças de seu povo. “Os danos ambientais não mudam a compreensão de que o rio é sagrado”, explica. Ele diz que os índios mais velhos já lhe perguntaram se o homem branco “tem poder para contaminar o Watú”. Apesar de já conhecer bem a cultura dos brancos e sua capacidade de destruição, sua resposta é um reforço à visão indígena da força da natureza: “De jeito nenhum. O Watú acaba com eles todos!”.

A fé no poder dos elementos naturais também alivia um bocado as almas aflitas com o aquecimento global. Aílton lembra que diversas culturas indígenas, como a dos Guarani e a dos Yanomami, acreditam que já estamos na terceira versão deste Planeta. Devastada por civilizações anteriores, a Terra sempre se regenera.

Tomara que estejam certos. Mas, por via das dúvidas, convém aprender com sua sabedoria (exata até para quem segue a razão científica): o rio é sagrado.


FONTE: Site do Canal Futura

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Seminário Internacional Gestão Pública da Água


O Seminário Internacional Gestão Pública da Água, realizado em Curitiba nesta quarta-feira (22), Dia Mundial da Água, reuniu especialistas que alertaram para a escassez e a privatização da água. Os palestrantes do Seminário foram unânimes em defender a água como um direito humano inalienável e que, como bem público, precisa de gestão pública. O diretor-administrativo da Sanepar, Péricles de Holleben Mello, que abriu o Seminário, disse que é obrigação moral da humanidade pensar em ações, no presente e no futuro, com relação a cuidados com a água e ao meio ambiente.
O indígena Marcos Terena, presidente da Organização Indígena Comitê Intertribal, afirmou que “o homem branco vive grandes contradições com relação à natureza e isso também acontece na relação com a água”.
O indígena Ailton Krenak engrossou o discurso de Terena. “Nós estamos vendendo a nossa alma e é preciso que a gente lembre dos rios e da natureza com a necessidade de ter vínculos verdadeiros.

PARA UM NOVO INDIGENISMO - OPAN (Operaçao Amazonia Nativa) 30 anos » Seminário »

Eu quero aproveitar logo a primeira oportunidade para dar parabéns para a OPAN. 30 anos é um tempo que permite a qualquer um aprender bastante, é uma oportunidade para gente aprender e talvez a razão porque tanta gente atribui as nossas tribos, atribui aos povos antigos algum tipo de conhecimento. Não seja porque as pessoas antigas são mais inteligentes do que as pessoas atuais não, é porque viveram muito tempo. É se um povo fica contando história um para o outro durante mil anos, 2, 3 mil anos, tem mais chance de aprender. Eu acredito nisso e então eu acho que a gente está sempre aprendendo. Cumprimento então os antigos que tiveram a sua época, o desejo de criar um lugar um espaço onde vocês que foram chegando nos últimos anos, nos últimos 10 - 5 - 1 ano, integrando essa rede de, quase indivíduos.

É a primeira vez que eu tenho a oportunidade de conhecer a história da OPAN de uma maneira tão íntima, escutar histórias de dentro de casa, como é que ela foi pensada, como é que ela foi parida, como foi virando um corpo com inteligência, com percepção do mundo onde ela está e interagindo. Para mim foi muito gratificante ouvir todos os meus amigos que conhecem a história e que construíram esta história juntos, isso me deu também uma sustentação para perceber a existência de outras ações e outras iniciativas que nos últimos 20 - 30 anos, incluindo a criação do CIMI. É uma oportunidade para gente perceber o ambiente e o tempo em que a sociedade brasileira foi capaz de perceber que não era possível tratar o conjunto da realidade nacional, empacotando as sociedades indígenas no extrato mais baixo da realidade dessa nação que tinha um esforço de se consolidar, tanto na visão colonial antiga quanto na visão modernizante do país. As nossas sociedades sempre foram ignoradas, foram desprezadas como um sinal afirmativo, como um sinal positivo de construção de alguma coisa. Nós não fomos levados em consideração, nenhum projeto político nacional como parceiros, de jeito nenhum, as idéias mais generosas, que contemplaram a visão dos pais da pátria, dos pensadores do Brasil, os antigos e os recentes, no máximo olham as nossas sociedades como alguém que precisa ser protegido e que precisa ser preservado e no máximo auxiliado para sobreviver. Esta visão de certa maneira ela perdura. Até hoje essa visão é a visão que inspira muitas das ações e até algumas das ações que envolvem iniciativas nossas mesmo, que envolvem nossa colaboração, o nosso esforço, a nossa participação, porque tem uma cultura, uma cultura muito densa que foi se formando ao longo de muito tempo.

E como eu estava partilhando com vocês de que o tempo realmente ele vai nos moldando. O Egydio falou que nós vamos trabalhando interagindo e que a pressão e a realidade desse mundo que vivemos hoje ele vai alterando a nossa visão e corrigindo nossos rumos. As vezes alterações dessa visão e as correções desses rumos não é exatamente para o lugar onde nós queríamos ir. Muitas vezes a correção do rumo e uma espécie assim de correção compulsória que a gente experimenta não leva para onde a gente está querendo ir ou a gente está projetando ir, mas nos leva para onde o conjunto das realidades que estão se dando permite, possibilita e nos cabe verdadeiramente. Neste sentido acho que as sociedades indígenas estão hoje no lugar que cabe, dentro da realidade nacional é onde nos cabe, nós não cabemos em outro lugar da realidade, não tem um outro lugar neste concerto dos povos que vieram para cá formar esta sociedade brasileira como está desenhada hoje, onde coubessem os índios que não fosse onde nós estamos. Esta é uma constatação que pode até dar um conforto para quem tem que levar a empreitada daqui para frente, de continuar encarando as ameaças de depredação dos territórios, aonde as nossas tribos ainda conseguem manter as suas áreas com alguma autonomia e algumas vezes de encontramento também das populações indígenas em modelos de serviços, modelo de participação nas economia regionais, aquilo que nós chamamos de integração, ameaças de absorver estas populações nos sistemas de mercado, nos sistemas de economia nacional e regional, ela é uma ameaça permanente, ela é uma possibilidade permanente, e a tendência a tomar estes territórios, de transformar eles tudo em produtos de mercado é também uma tendência natural. Não existe uma consciência, nem aqui no Brasil nem fora do Brasil, de que seja verdadeiramente importante que as sociedades tradicionais continuem vivendo a sua maneira e que continuem tendo à disposição de seus territórios os seus sítios e seus lugares, para continuar vivendo como querem.

Essa compreensão do quanto que é tensa a realidade regional e a realidade também tomando outras regiões do mundo, tomando outros continentes, outras populações. Olhando o conjunto, nós percebemos que tem um movimento rigoroso, forte mesmo de ajuste de todas as possibilidades onde os recursos naturais e a capacidade de trabalho são o último escudo, a última tranca. Ela vai em cima do que ainda há de recurso natural, acessível e possível de ser explorado e colocado no mercado. Tem a mão de obra também, onde mesmo quem só pode cortar pau e garimpar, ainda tem valor para esse mercado e o mercado vai exaurindo esses recursos a onde ele pode, essa capacidade de delapidar os recursos de natureza de maneira violenta, ele continua vivo cada vez mais atuante, e em todas os lugares do planeta.

Depois de chamar um pouco esta visão meio assustadora, dessa realidade que nós vivemos hoje, eu queria comentar com vocês, o fato de eu ter estado durante 10 anos, junto com outros colegas meus, coordenando uma organização que pretendeu na década de 80, fazer o que era possível. Ao mesmo tempo, experimentar e aprender, o que é uma organização indígena. Essa organização indígena que eu experimentei, junto com meus colegas, de consolidar, foi a União das Nações Indígenas.

Trabalhar no dia a dia, a demanda que este movimento indígena conseguia perceber, conseguia apreender como realidade e como necessidade mesmo para gente se firmar, como sociedades distintas e diferenciadas entre nós mesmos, mas como uma base comum de condições para nós podermos viver. Essa base comum que nós conseguimos fotografar todos juntos, ela ainda era muito limitada, porque ela se restringia basicamente na defesa da vida e a defesa dos lugares aonde nós ainda estávamos podendo viver (as nossas aldeias, reservas, onde nossas famílias estavam vivendo) estava sendo a nossa bandeira, defendendo a vida e defender a terra. Essas duas razões que permitiram que índios de diferentes tribos, os índios do Nordeste, do Sul, do Centro-Oeste, da Amazônia, começassem a trocar impressões de partilhar uma idéia, digamos assim, nova para todos nós, estimulante àquela época de que nós éramos os índios. Já era uma outra criação, criação de uma categoria, que para maioria dos nossos parentes, era tão esquisita quanto chamar o cara de ET ou de OVNI, ou de qualquer outra coisa. Você podia dizer: "nós somos os pedra, somos os lua", nesse caso era uma organização de índios e nós fomos afirmando nas nossas conferências, nos debates, nas entrevista de imprensa, na discussão com o público, cada vez mais, essa espécie de caricatura, essa idéia que era uma atribuição, nós recebemos, valeu, fizemos o retrato da época e trabalhamos no enfrentamento com as realidades que se colocavam para nós naquela época que ainda era o finalzinho da ditadura militar, o resto da experiência que tinha durado para todos nós, tempo excessivo de proibição de tudo, nós estávamos fazendo várias experiências ao mesmo tempo, que era experiência de conhecer alguma coisa que nós ainda não sabíamos o que era, que era estar saindo do convívio da maioria das nossas famílias e das nossas tribos, para começar a participar de viagens, reuniões, encontros, assembléias, saídas inclusive para fora do Brasil, onde muitos de nossos parentes voltaram totalmente rodados, porque eles não entendiam o que estavam vendo não sabiam o que estavam fazendo aquelas viagens tão longas. E sempre tem muitas situações engraçadas no meio de tudo isso, como o camarada que é convidado para uma conferência em Genebra, chega lá de madrugada, chega de manhã cedo e de tarde ele volta para o aeroporto, pega um avião e vem embora, porque ele não acredita, não gosta daquele lugar e não acredita que pode ter um lugar tão longe.

Então nós experimentamos esse aprendizado de uma maneira muito espontânea, ninguém tinha formação política, nenhum dos índios que estavam integrando esse movimento tinha formação política. Não conheciam a realidade além da sua tribo, além da sua região, da sua cidade. O pessoal do Acre conhecia a realidade do Acre e olhe lá; os Kulina, ou os Ianawa, os Kaxinauá, os Jaminaua ... alguns deles nunca tinham vindo à Rio Branco ou ido à Manaus. Os Makuxi, que estavam lá em cima em Roraima, tinha muita gente Makuxi que nunca tinha vindo à Boa Vista. Então até mesmo o transito das pessoas, os deslocamentos, entre um lugar e outro, à Brasília, ao Rio de Janeiro, eram lendas nas nossas histórias. Era muito comum um ou outro dos velhos, que tinham ido ao Rio de Janeiro conversar com SPI, contar deste lugar distante que era o Rio de Janeiro, sempre como uma imagem muito longínqua para todas as pessoas mais novas, imaginar onde eram estes lugares, onde o governo mandava, onde as autoridades decidiam.

Foi na década de 80 que as pessoas indígenas começaram a reconhecer de certa maneira que existia um conjunto de instituições do Estado que incluía o Presidente da República, o Congresso Nacional, a Polícia Federal; as polícias... Essas estruturas que todo mundo está acostumado a tratar com elas como coisas que sempre existiram. Para a maioria das nossas, não só das lideranças que estavam a fim de integrar e constituir esta forma de representação, essa forma de expressão do nosso momento, tinha muito pouca informação, muito pouco idéia do que era a realidade toda do país.

Eu acho que um passo muito importante que esse tempo nos possibilitou, foi o de aprender sobre essa realidade em torno da nossa vida local. Nós fomos todos despertados para uma realidade que era e é muito mais complexa do que nós pensávamos naquela época. Por mais que a gente tivesse que enfrentar os fazendeiros, os vizinhos, enfrentar eventuais invasores das nossas terras, nós nunca atinamos para a complexidade da organização política e dos interesses que estavam e estão em torno da nossa realidade local. O trabalho, a presença dos companheiros que como antropólogo, ou como indigenista, se aproximaram das nossas áreas para levar essa discussão conosco, foi fundamental, para dar qualidade, aquele primeiro round da nossa abriga com o Estado para defender nossas terras e para trabalhar com mais tempo na questão da defesa da vida. Na defesa da vida eu incluo todos os avanços que nós reconhecemos hoje, e ao que está inclusive incluído no texto da Constituição Brasileira, o reconhecimento da nossa diferença, o reconhecimento a nossa antigüidade de estarmos aqui e a realidade de um país que precisa assumir e partilhar com as sociedades que foram empurradas de seus territórios de origem, muitas vezes para áreas distantes de seus lugares de origem, mas que o Estado passou a admitir, só na década de 80, pela primeira vez, de que nós somos uma realidade permanente, vamos conviver com os outros brasileiros e com o que vier a ser o Brasil no futuro, nós vamos conviver e estar nela interagindo com ela como qualquer outra parte desta formação da sociedade brasileira, como qualquer outro povo que veio para cá o Estado hoje já consegue pelo menos isso admitir, de que nós estamos nesta canoa, nós vamos fazer esta viagem juntos. Depois nós podemos olhar e discutir em que lugar desta canoa a realidade que nós vivemos hoje, admite ou aceita que nossas as sociedades tradicionais possam também, segurar possam estar juntos.

Eu fiquei baseado em São Paulo de 1979 até agora, são 20 anos né? Esses 20 anos eu estive todo este tempo buscando entender, buscando identificar trilhas, rotas que nós pudéssemos fazer, como defesa não só destas duas bandeiras fundamentais que é a vida e o território onde cada povo nosso está, mas identificar também como nós poderíamos estar lidando com as novas necessidades e com as novas situações que a convivência com a sociedade brasileira e com o mundo todo nos vigia. Dentro dessa busca de identificar meio e formas de organização que possibilitasse a nossa afirmação permanente o trabalho das organizações, das entidades que apoiavam a luta do povo indígenas, ela foi muitas vezes a condição para que a gente pudesse se mover. Em muitos momentos a capacidade de mobilização, a iniciativa de uma comunidade indígena, ela estava determinada por quanto os nossos aliados eram capazes de se mover naquele, o nosso ritmo era foi muitas vezes impulsionada e possibilitado pela disposição e pela capacidade de trabalho que as pessoas que estavam voltadas para apoiar a nossa luta, estavam dispostos a pôr em cada momento. Esse papel de apoiar e de dar sustentação à visão que as nossas comunidades conseguiam exprimir a cada tempo, a cada região desse país de cada localidade, ele foi determinante para um povo viver ou para um povo se acabar. Em algumas regiões do Brasil grupos que estavam reduzidos a 8 indivíduos, 11, 20, 30, quando se acabavam, quando o seu povo todo está reduzido a meia dúzia, a 20 pessoas, é muito fácil, um bando de jagunços cercam um vale qualquer e acaba com todo mundo.

A presença viva, a atitude constante dos companheiros que estavam nas organizações de apoio na década de 70 e 80, eles foram fundamental mesmo para assegurar que esse enfrentamento não fosse tão desvantajoso para os índios e mesmo com esta capacidade de perfilar todo mundo uma bandeira em comum, nós ainda levamos prejuízos nesse período, nós ainda levamos muitas porradas, perdemos algumas das nossas batalhas nesse período e nós considero que conseguimos fechar a década de 80 com um sinal muito afirmativo e com uma indicação que íamos avançar muito mais na década de 90. Nós chegamos no final da década de 80 consolidando, no texto da Constituição, os direitos que nós sonhamos com eles antes e conseguimos colocar eles no documento.

Não conseguimos avançar mais além disso. A década de 90 tem sido um tempo muito duro, quando nós olhamos o avanço que nós tivemos na década de 80 (mesmo no final da década de 70), um avanço político, avanço de conhecimentos, a iluminação do ambiente das relações entre as nossas sociedades e Estados e as outras forças (econômicas e políticas) que estão nesse campo o tempo inteiro.

Nós estamos então fechando uma década, mais uma vez e olhar para esta década de 90, considerando como que nós temos interagido dentro dela, que capacidade que nós temos tido de entender, reconhecer a distância, algumas das tendências da política (do estado e da global) e o impacto que ela tem sobre a nossa vida, parece que tem sido um dos nossos pontos mais abertos. Acho que a nossa compreensão da realidade, nossa capacidade de antecipar as políticas, ela está muito aquém do ritmo das mudanças. As mudanças, elas tem ocorrido com muito mais velocidade do que nós somos capazes de aprender. Algumas das tragédias e alguns dos prejuízos que temos tomado, são em conseqüência de nós estarmos muito treinados para lidar com a realidade de 20 anos atrás e pouco preparados para lidar com a realidade daqui a 10 anos. Nós não podemos trabalhar com a cabeça que nós fizemos há 20 ou 30 anos atrás, uma realidade que estamos antecipando condições do terceiro milênio. Muitas das questões que estão sendo colocadas para nós hoje, elas são antecipação de realidades que nós vamos ter que enfrentar de fato, daqui a 5 ou 10 anos. Os acordos internacionais, os convênios, todo o conjunto de armações que a engenharia do mercado da grana e das políticas mais dominadoras do planeta. Elas estão desenhando situações que exigiriam das organizações de apoio ao povo indígena assim como as diferentes expressões do movimento indígena, porque não existe um, as diferentes expressões que cada tribo, cada etnia, cada povo entende que é a sua ação política, isso é um movimento indígena, ele é isso, ele não alguma outra coisa que se pareça com um desenho que um ou outro de nós projeta ou pensa. Ele é uma realidade de fato. E essa capacidade, as nossas forças, a capacidade que nós temos, de projetar e de olhar para frente ela está toldada, nós estamos pouca capacidade de olhar para frente. Nós estamos lidando sempre com o fato, sempre olhando o prejuízo como a realidade que já está muito na nossa cara, no máximo com alguma coisa que vai ser implementada daqui a 1 ou 2 anos. Nós estamos hoje discutindo as hidrovias, discutindo ainda as políticas de desenvolvimento regional na Amazônia que preconizam derrubar mato e colonizar; quando nós já podíamos estar avançando, de fato, discussões que levassem em conta outras formas de produção, outras formas de organização da produção, do mercado, das economias, onde os territórios e as populações não só indígenas, mas as populações que estão no entorno dessas áreas indígenas, como em algumas regiões da Amazônia, são populações que tem um profundo comprometimento com as estratégias das sociedades indígenas que são ribeirinhos, seringueiros. A gente não pode se esquecer que da mesma maneira que nos parques nacionais e nas reservas nacionais, algumas áreas de relevância biológica, o cinturão em torno dessas áreas é de fundamental para sua preservação. Nós podemos ter certeza de que a população que está no entorno das áreas indígenas, se ela é uma população que nós trabalhamos com ela, a longo prazo, ela é um cinturão de segurança desse território. Se nós trabalharmos estratégias de aliança, não aliança barata, mas um processo de construção de reconhecimento de reciprocidade de respeito com os nossos vizinhos nós podemos ter desses vizinhos, círculos graduais de proteção, de defesa daquilo que é um impacto mais direto sobre território, sobre população, mas que obviamente vai se refletir no comportamento de pessoas que estão um pouco mais longe, definindo projetando ações, para o entorno para as vizinhanças desses territórios.

Esta compreensão o ponto mais imediato, local, e o reconhecimento de como este ponto está relacionado com vários círculos que nós podemos interagir, que nós podemos reconhecer e interagir neles, tem parecido para mim, um caminho positivo que pode ajudar as pequenas sociedades a terem mais tempo para acompanhar a realidade global e responder algumas das questões dessa realidade mais ampla nos impõe. Isso seria muito importante que nós pudéssemos, ter a participação, a colaboração de quem está no campo do indigenismo, para que isso fosse sendo implementado, para que a gente fosse trabalhando estas idéias. Eu sinto que tem algumas ações hoje de monitoramento de algumas áreas, incluindo imagens de satélites, fazendo a vigilância para ver se estão abrindo estradas, se estão abrindo novos grupos de colonização, monitorando informação, tem muito acompanhamento dessas realidades locais mas elas não constróem um quadro articulado e nem orientam uma ação no tempo para ir construindo, também com as populações que estão no entorno dos nossos territórios, essa idéia muito bem vinda de estimular, incentivar, de que as pessoas se lembrem e que reconheçam na prática da reciprocidade, um campo muito rico que nós nunca seremos capazes de explorar toda a sua potencialidade se a gente tiver coragem de ir fundo nele. Estimular isso nas pessoas, tanto nas populações que estão próximas das áreas indígenas, quanto aos que estão naqueles grandes centros, trazem sempre para o debate ter mais oxigênio, ele pode ser um trabalho muito importante para o futuro, a partir de agora já poderia ter sido feito (perdemos de não fazer na década de 90), mas nós podemos avançar nisso.

A minha idéia sobre a realidade em que nós estamos metidos nela, não só como sociedades tradicionais, como populações tradicionais, mas também como população que vive numa região do mundo que é marginal. Eu tenho procurado comparar realidades de populações nossas que estão aqui no Brasil e na América do Sul, com população tradicionais que estão em outros países, como nos países ricos, como está a situação dos índios no Japão? Se me permitem chamar eles de índio. Lá no norte do Japão tem um povo que se chama Aino, lá nas montanhas geladas. Nos EUA todos nós sabemos da existência de uma população indígena numerosa, população indígena dos EUA chega em torno de 2 milhões ou 2,5 milhões, e mesmo assim aquela população com 2,5 milhões não apita nada, nem apita. Nós temos tido a visita de índios que vieram do Canadá e dos EUA, aqui também deve ter havido estas visitas, nas áreas onde a OPAN atua? Vocês já tiveram visita de Navarro ... ? Já. Estas visitas foram muito boas, tanto para nós como para eles que se tocam do pacote esquisito que eles estão metidos lá no norte. A maioria dos nossos parentes que vem do Canadá ou dos EUA aqui, ficam admirados com o barulho que os índios fazem aqui no Brasil, admirados com a capacidade de berrar que o povo indígena tem e como que esse barulho incomoda. O que é isso? Se nós estivéssemos vivendo uma realidade de país rico os índios estariam, ou nem estariam mais aqui ou estariam muito mais danados que estamos numa realidade de terceiro mundo.

História do povo Aino no Japão....(Ailton fez duas viagens para lá.) e descreve os detalhes deste povo.

No passado recente, incluindo o SPI e as missões também, tinha muito pouca capacidade de entender, pouca intimidade com o assunto, não tinha como entrar nesses assuntos e reconhecer ele em profundidade. O que eu acho, é que hoje também, estamos num ponto em que é difícil penetrar em todos esses ambientes destes temas e atualizar ele o tempo todo, ficar ligado o tempo inteiro, percebendo o conjunto dessas realidades sendo capaz de interagir nele. O sentimento também que fica muito forte, é que o modelo e a educação, e o treino que as pessoas receberam para atuar nesta área, foi baseado numa realidade que já foi superada e exige da gente hoje, de cada um de nós, a capacidade de projetar, de olhar além da situação imediata em que estamos vivendo, para programar as nossas ações e andar um pouco a frente dos acontecimentos, porque como as realidades que nós estamos relacionados com elas são realidades frágeis, nós estamos trabalhando com ecossistemas extremamente frágeis, complexos em si mesmo e frágeis no contato com realidades de fora, com culturas e com sociedades que apresentam as vezes a mesma sensibilidade que esses ecossistemas que nós estamos nos referindo; e estão ambos na mira. Então é uma condição, é uma exigência do tempo que nós nosso tempo, ficar ligado, ficar alerta, não ficar trabalhando com idéias muito acomodadas.

E eu sinto as vezes quando chega um companheiro e pergunta: "Ailton, cadê o movimento e as organizações indígenas? Vocês afrouxaram, vocês desistiram, os índios voltaram para casa? Arrumaram emprego na FUNAI, viraram todos empregados públicos, como é que é?" Eu observo que as perguntas tem toda razão, mas que a compreensão de quem está fazendo esta pergunta, é muito fundada em elementos do passado, em realidades que já foram embora, já passou e que não teria sentido na década de 90 e muito menos no próximo século. Imagina, nós não podemos chegar no século XXI tentando recuperar um formato, um jeito de organização que pode parecer mais fácil de lidar com ele, é mais fácil de reconhecer porque ele está dentro de um figurino que é ocidental, uma coordenação, uma organização, com diretores com presidente, dirigente, com escritório, com jornal, com endereço, com cartão. A maioria das pessoas que estiveram junto conosco trabalhando nos últimos 20 anos, 10 anos, estavam querendo que nós chegássemos a um tipo de resposta que nós sabemos que é esta, ele queria ser capaz de identificar no interlocutor pelo telefone imediatamente, se o deputado está lá dentro do gabinete dele e caiu lá alguma coisa relativa aos índios ele gostaria de pegar o telefone e ligar para a organização indígena que está com tudo em cima para dizer que é assim ou assado. Nem organização indígena e nem organização não indígena, indigenista, nenhuma dessas organizações hoje, chegaram ao ponto de estar com esses universos "on line" pronto com todas as informações para o que der e vier.

O fato de nós não termos chegado a isso pode ser em razão de nós estarmos com as ferramentas erradas e principalmente escolhendo as ferramentas erradas e atuando de uma maneira ultrapassada. Se nós estivéssemos escolhendo as ferramentas erradas e atuando de uma maneira ultrapassada, as duas coisas acontecem mais ou menos juntas, se a gente está atuando com uma idéia muito pregada nas experiências passadas, nos modelos passados, a gente pode correr o risco de escolher também a ferramenta para a ação e orientada só por este modelo e ela não vai ter nenhuma adequação, não vai caber no momento.

Eu gostaria de manter essa comunicação com os meus companheiros da OPAN e com os outros amigos que estão aqui, como eu, na condição de convidados, para gente ir atualizando a nossa visão sobre a realidade mais geral e mais específica aqui do nosso país, do Brasil, de como a gente pode interagir. Mas eu tenho uma impressão de que essa capacidade de ação nossa, ela vai cada vez mais lidar com uma realidade onde a ação é de redes de indivíduos e menos de organizações, essa é a tendência futura. Creio que no futuro nós vamos ter muitas redes, que tem uma certa semelhança com isso que os companheiros da OPAN fizeram ao longo destes 30 anos, que é de manter o compromisso com uma idéia e não com o desenho de uma instituição, o compromisso é com idéia e articula pessoas, reúne gente, atualiza o quadro e vai trabalhando. Eu tenho muita simpatia por esse jeito que vocês se mantiveram ao longo desses 30 anos, eu tenho simpatia por esse jeito de mobilizar, capacidade de trabalho das pessoas, dentro de uma visão da realidade que nós estamos vivendo e num foco também bem apurado, bem fino, do que essas pessoas estão comprometidos e estão dispostos a fazer. Acho que isso tem consequência e é uma pena que nós até agora, não tenhamos sido capazes de criar os outros instrumentos positivos, criativos, que pudesse dar mais impulso ainda a esse jeito de agir, que é a necessidade de atualização permanente mesmo, da realidade que nós estamos vivendo e isso vai exigir muito esforço, por que todos nós sabemos que quando vamos trabalhar em algum lugar com uma realidade local com um povo, a gente fica tão absorvido que nós nos esquecemos até da cidade mais perto da gente, a gente não lembra mais nem desta cidade que está ali a 20 ou 30 Km de onde a gente está, quanto mais, lembrar do desenho de um país inteiro, de uma realidade do continente, de uma realidade mundial. Por isso é muito importante mesmo ações que são leves e com pouco grau de burocracia e institucionalização como essa que caracterizou a ação da OPAN nesses 30 anos, é muito importante que ela tenha canais para fora, é muito importante que ela tenha janelas e essas janelas tem que ser super ventiladas e iluminadas, porque se não, vocês ficam tapados, imagina você define um projeto, se enfia de cabeça nele durante uns 5 ou 6 anos, você não sabe mais nada sobre no mundo a não ser esse trabalho, a menos que você não esteja verdadeiramente apaixonado e metido naquela história, se você estiver metido e apaixonado naquela história, você não vai enfiar a cabeça nela e não vai lembrar de outras coisas. E isso, se por um lado é ótimo porque você está com essa energia toda, por outro lado no tempo isso é mau, porque as realidades se alteram com muita rapidez e você pode continuar mandando a maior brasa numa história que já terminou.

Então eu sinto, que nós não vivemos mais no tempo de promover organizações indígenas baseadas em exemplos que nós tivemos na década de 70 de 60 de organização dos movimentos sociais. Eu tive que ser até antipático com os companheiros da CUT e com sindicalistas em geral (no começo de 90) quando eu estava me retirando da coordenação da UNI, quando publicamente eu falei que não acreditava num sindicato de índio e que eu estava saindo fora porque a tendência do movimento indígena era virar numa Central Única dos Índios e eu não acredito também numa central única dos índios, a CUT é dos trabalhadores e não dos índios. Então eu sei que a nossa aliança com vários setores da sociedade brasileira inclui obviamente os trabalhadores e a proximidade dos índios com jeito de organização dos trabalhadores influenciou muito a nossa primeira organização. A primeira idéia de organização nossa estava espelhada óbvio nos trabalhadores, estava espelhada nos sindicatos, nas organizações dos sem terra, na organização da pastoral da terra, no máximo era da CPT, no máximo os índios do nordeste tinham conhecido um pouco da ação das ligas camponesas, os índios mais velhos sabiam o que eram as ligas camponesas, os Kiriri sabiam e alguns Potiguara (lá da Bahia da Traição) também sabiam, porque essa história rodou em volta deles. Um ou outro conheceu experiências de organização política daquela época, mas a principal inspiração para o tipo de organização que nós experimentamos nos finais de 70 - 80, foi organização de trabalhadores rurais e sindicato e seria um equívoco muito grande se a gente tivesse continuado naquele caminho. Se a gente tivesse continuado nesse caminho a gente estaria atropelando a diversidade cultural, a gente estaria matando a possibilidade de surgimento de formas próprias de expressão, de organização de centenas de etnias. O que nós estaríamos fazendo na verdade? Estaríamos criando um tubo, do ponto de vista do modelo de organização, que talvez fosse prevalecer para o próximo milênio, nós íamos oferecer um modelo totalmente equivocado para a realidade de sociedades que ainda estão até sem contato com esta realidade brasileira, com esta realidade do mundo, porque ao esboçar uma organização de caráter nacional você já tá prevendo que aqueles caras que vão ter contato lá das cabeceiras do rio Juruá, depois que a FUNAI carimbar eles a organização indígena também vai lá e carimba, estão representados. Então tem uma arbitrariedade muito grande nesses modelos, tem uma violência muito grande nisso, e que as vezes é melhor a gente ter a radicalidade do Egydio de achar que "quando o circo está pegando fogo é que tá ficando bom", é melhor ficar mesmo com esta posição porque ela tem mais conseqüências do que você ficar reproduzindo estes modelos chapados, de dominação, de consolidação de uma coisa que todos nós sabemos que ela não tem futuro mas nós admitimos que ela vem com a bola toda.

Todos sabemos que o desenvolvimento com as bases que eles ocorrem hoje no Brasil, ele só vai destruir tudo e empobrecer a todos nós, mas nós sabemos também que ele tem uma capacidade de convencimento e uma capacidade de devorar, que nem os povos de contato recente conseguem resistir a tanto assédio, mesmo gente que experimentou durante milhares de anos viver com autonomia, fica pasmado diante de tanta facilidade, de tanta pressão e de tanta ilusão que esse modelo de desenvolvimento prega na cara de todo mundo.

O que eu sinto também, é pensar uma realidade tão distinta para as sociedades indígenas e a sociedade brasileira como um todo, seria também um equívoco muito grande. Eu não creio que exista um lugar para um projeto de sociedade, vivendo de uma maneira positiva, respeitando as diferenças culturais que nos marcam e protegendo os territórios como recursos naturais de interesse comum da sociedade, não só das sociedades indígenas, mas da sociedade brasileira como um todo. Trabalhar uma visão onde a reciprocidade, o respeito e o direito à diferença, sejam norteador da convivência, eu acho que ela é muito mais acertada pro futuro a partir de agora, do que trabalhar a idéia do isolamento, a idéia de assegurar modelos como do Parque Nacional do Xingu, ou modelos variantes destes.

Eu acredito que nós vamos precisar sem muito trauma das experiências passadas, superando os traumas das experiências passadas, nós vamos precisar descobrir contatos positivos das nossas sociedades tradicionais com a realidade contemporânea do nosso país. É o máximo de futurismo que eu consigo partilhar com vocês sobre este tempo que nós estamos vivendo e a expectativa que tenho com relação ao futuro não só pra minha tribo, minha família que está lá no Vale do Rio Doce, mas para as outras tribos e para as outras etnias que estão em diferentes regiões do país. Eu não creio que existe uma hipótese de desenvolvimento autônomo e autista, ele é o desenvolvimento das nossas humanidades e das nossas capacidades, interagindo, nos relacionando de maneira seletiva com o conjunto da sociedade brasileira. Este relacionamento seletivo obviamente ele passa por uma identificação daqueles setores da população que nós sentimos que são nossos aliados naturais. Os nossos aliados naturais são aquela parte da população que já fizeram a sua escolha pessoal ou comunitária, de viver de uma maneira mais respeitosa, respeitando a natureza e respeitando quem está em volta.

Agradeço a vocês por terem me escutado com tanta atenção e se tiver oportunidade de debater e responder a vocês questões que não ficaram suficientemente claro aqui nas minhas falas, eu fico contente, seria uma boa. Obrigado.

Fonte: http://www.opan.org.br/opan_textos30anos_seminarios.asp?codsem=01

Programa Taru Andé

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Taru Andé

Quem é Ailton Krenak

Ailton Krenak nasceu no Vale do rio Doce, Minas Gerais, em 1954. Os Krenak registravam uma população de cinco mil pessoas no início do século XX, número que se reduziu a 600 na década de 1920 e a 130 indivíduos em 1989. Na época, Ailton pressagiou: "se continuar nesse passo, nós vamos entrar no ano 2000 com umas três pessoas". Felizmente isso não aconteceu. Contando com esforços também do próprio Ailton, os Krenak fecharam o século com 150 pessoas. Com 17 anos Ailton migrou com seus parentes para o estado do Paraná. Alfabetizou-se aos 18 anos, tornando-se a seguir produtor gráfico e jornalista.

Na década de 1980 passou a se dedicar exclusivamente à articulação do moviemnto indígena. Em 1987, no contexto das discussões da Assembléia Constituinte, Ailton Krenak foi autor de um gesto marcante, logo captado pela imprensa e que comoveu a opinião pública: pintou o rosto de preto com pasta de jenipapo enquanto discursava no plenário do Congresso Nacional, em sinal de luto pelo retrocesso na tramitação dos direitos indígenas.

Em 1988 participou da fundação da União das Nações Indígenas (UNI), fórum intertribal interessado em estabelecer uma representação do movimento indígena em nível nacional, participando em 1989 do movimento Aliança dos Povos da Floresta, que reúnia povos indígenas e seringueiros em torno da proposta da criação das reservas extrativistas, visando a proteção da floresta e da população nativa que nela vive.

Nos últimos anos, Ailton se recolheu de volta à Minas Gerais e mais perto do seu povo.

Atualmente, está no Núcleo de Cultura Indígena, ONG que realiza desde 1998 o Festival de Dança e Cultura Indígena, idealizado e mantido por Ailton Krenak, na Serra do Cipó (MG), evento que visa promover o intercâmbio entre as diferentes etnias indígenas e delas com os não-índios.