Cidades publicado 23/04/2019-14:15 Atualizado:14:17
O Amazônia das Palavras, projeto que leva literatura a cidades da Amazônia Brasileira, se prepara para a edição 2019, prevista para acontecer no mês de outubro
O Amazônia das Palavras, projeto que leva literatura a cidades da Amazônia Brasileira, se prepara para a edição 2019, prevista para acontecer no mês de outubro, navegando 1.300 Km pelos Rios Negro, Amazonas e Madeira e visitando as cidades de Porto Velho, Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã, Borba, Nova Olinda do Norte, Itacoatiara e Manaus.
Diante do sucesso na primeira edição do Amazônia das Palavras, os produtores acreditam que neste ano de 2019 o projeto irá envolver um público ainda maior, superando as mais de cinco pessoas, entre alunos e professores, comunidades ribeirinhas, população indígena e quilombola e as comunidades que participaram das atividades culturais durante o mês de novembro de 2018, quando se realizou a primeira edição.
Com o objetivo de estimular a leitura e o hábito de acesso aos livros para jovens e adolescentes das redes públicas de ensino das oito cidades visitadas pelo Amazônia das Palavras, o projeto está dividido em várias atividades culturais, todas gratuitas. Durante o dia são realizadas as Oficinas Literárias, onde escritores e artistas reconhecidos nacionalmente tratam de temas variados e ensinam os alunos como produzir contos e histórias, a importância da escrita e da narrativa na construção de suas histórias de vida.
Na Edição 2019, as Oficinas Literárias serão ministradas por Marcos Magalhães, com a oficina Palavra Animada, Thiago Thiago de Mello com Sons do Cotidiano, Eliakin Rufino com Produção de Cultura Indígena e Poesia, Celdo Braga com a oficina Poesia: Narrativa e Escuta e Bete Bullara na oficina Imagens da Amazônia.
No período noturno, o Amazônia das Palavras reúne as comunidades visitadas para a apresentação da Aula Espetáculo Memórias da Amazônia, onde o escritor Ailton Krenak irá partilhar as suas experiências literárias e destacar a importância da leitura como formação da cidadania. Logo após o público assiste a um Espetáculo Circense, este ano a cargo do ator Luiz Carlos Vasconcelos, que interpreta o Palhaço Xuxu com o espetáculo Silêncio Total.
A Edição 2019 do Amazônia das Palavras fará duas homenagens. A primeira ao escritor amazonense Milton Hatoum, um dos mais premiados escritores brasileiros da atualidade, e à cidade de Manaus, que completa no dia 24 de outubro 350 anos de história.
FONTE: https://www.portalam24h.com/cidades/o-projeto-amazonia-das-palavras-2019-acontece-em-outubro.shtml
quinta-feira, 25 de abril de 2019
'Não somos indígenas só em abril. Somos indígenas nos 365 dias do ano'
A frase que dá título a esta matéria foi um desabafo de Jocelino Tupinkim, jovem liderança da aldeia de Caieiras Velha, em Aracruz. Temos um ano inteiro para discutir o tema indígena, convidar as diferentes etnias para falar e nos mostrar sua cultura, mas a maioria dos convite vem justo nessa época, quando possuem as agendas já apertadas com as próprias celebrações nas aldeias por conta do Dia do Índio, 19 de abril.
Mas tudo bem, eles dão um jeito de atender as agendas de cá. "Se em outros tempos nós tivemos que nos esconder da violência do Estado, eu diria que hoje, como nunca antes, temos denunciar e dizer que o tempo do silêncio definitivamente acabou e agora nós vamos protagonizar nossas lutas pra valer", disse Edson Kayapó, doutor em História, que foi um dos palestrantes convidados no dia 17 de abril para o evento Aliança Indígena, realizado na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) em Vitória.
Importantes lideranças e grupos culturais indígenas tupinikim e guarani do estado, junto a convidados do povo kayapó, participaram do evento repleto de emoções, memórias, falas contundentes, críticas ao racismo institucional e também celebrações e mostras da cultura.
No dia seguinte, mais um encontro na capital. Dessa vez com o governador Renato Casagrande (PSB), que recebeu um documento com as principais reivindicações. "O Governo do Estado, como um todo, está à disposição de vocês. Sabemos o que vem acontecendo com os indígenas a nível nacional e podem contar integralmente com meu apoio político nas suas lutas", afirmou o governador.
Porém, o desenrolar dos debates na Ufes, mostram que o avanço das lutas e conquistas dos povos originários, tão diversos entre eles mas marcados pela violência do rolo compressor colonial, dependem mais do que da simpatia das lideranças políticas. Necessitam de um compromisso real e permanente e políticas públicas que permitam não só incluir, mas também transformar as estruturas de poder. Junto com o povo negro e outras comunidades tradicionais, os indígenas sofrem com o racismo institucional, arraigado nos dirigentes e funcionários, imperceptível a muitos olhos que acostumaram a ver as coisas a partir de um Estado com instituições construídas tendo como base o pensamento branco e colonial.
Pode parecer exagero discursivo e talvez até uma retórica abstrata, mas pergunte aos indígenas e aos negros como se manifesta concretamente esse racismo nas coisas grandes e pequenas, no cotidiano do que é viver numa comunidade periférica urbana ou rural, ou no que significa frequentar o espaço essencial de produção de saber da modernidade, a Universidade.
Estudante de direito, Alyne Kayapó, outra brilhante jovem indígena que busca na espiritualidade uma fortaleza para enfrentar todas essas realidades, falou sobre o tempo indígena, diferente do "kronos" ocidental. E falou de memória, oralidade e educação. "Por que a sociedade nacional quer cobrar de nós povos indígenas que a gente tenha o mesmo comportamento da época da invasão? Porque eles estão acostumados com livro que é uma coisa que engessa, não olham para a dinâmica das coisas. Nós todos somos super dinâmicos, a história está em constante movimento".
Os direitos indígenas antecedem ao Estado, são direitos originários, lembra Paulo Tupinikim. Mas para sobreviver física e culturalmente os indígenas precisam que o Estado faça a demarcação e proteção de territórios que permitam a reprodução de seu modo de vida. Territórios que na verdade lhes foram usurpadas com apoio direto ou velado desse mesmo Estado. Imagina então o tamanho dessa luta. “Somos índios, resistimos há 500 anos. Fico preocupado é se os brancos vão resistir”, declarou no ano passado Ailton Krenak, diante de um momento de acirramento na sociedade brasileira.
"Nossos grandes líderes lutaram para nós, esses direitos não foram ganhos de mão beijada", afirmou na Ufes o cacique guarani Werá Kwarai "Nossos grandes líderes foram vistos como se fossem selvagens. Selvagem são aqueles que jogam bombas para destruir a vida. Selvagem é aquele que destrói todo saber, viola o saber de outros, explora a força física de outro. Esses são os selvagens".
Nas redes sociais, Célia Xakriabá, importante liderança jovem de Minas Gerais, ironizou: "Eu tô aqui pensando, onde está o tanto de gente que usou cocar no carnaval para homenagear nosso povo indígena, será que vai estar com nós na próxima semana na Mobilização Nacional Indígena em Brasília?"
Os que "homenagearam" os indígenas no carnaval, os que lembraram desse 19 de abril com imagens daqueles indígenas idealizados, os que trocaram seu sobrenome para Guarani Kayowaá no Facebook, estarão acompanhando as lutas e reivindicações dos povos originários o ano inteiro?
É verdade que o "kronos" da cidade é brutal. Que a instantaneidade e excesso de informação das redes atropela e confunde diante de uma luta ancestral. Mas como provocou Célia, um primeiro desafio pode ser tentar acompanhar e apoiar as mobilizações do Acampamento Terra Livre, que reúne inúmeras etnias na próxima semana, de 24 a 26 de abril em Brasília, organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). O governo federal desses tempos de trevas já autorizou o uso da Força Nacional contra os povos indígenas que ali estarão acampados.
Tradicionalmente o Acampamento Terra Livre sempre foi um espaço de paz, diálogo e reivindicação. Os indígenas capixabas estarão presentes, assegurou Paulo Tupinikim. E você? No que resta deste abril, deste ano, deste governo e dos tempos que virão, como você pretende apoiar a luta mais justa e mais antiga desse país?
14ª edição do Flipoços valoriza pautas indígenas e dos povos originários
Diante de tanta intolerância, é necessário levantar a visibilidade e representatividade de diversos povos, principalmente dos indígenas que carregam vários problemas sociais há anos, consequentemente prejudicando as culturas e modo de viver. E, apesar, de muitos tentarem apagar suas histórias e origens, a Flipoços, o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas, colocou em pauta as causas indígenas e povos originários nesta edição.
Marcada para iniciar no dia 27 de abril e finalizar somente em 05 de maio, a Flipoços confirmou a presença de várias mesas, fóruns e atividades voltadas às pautas indígenas e discute, essencialmente, o genocídio indígena no Brasil.
Algumas atrações já foram reveladas para o público que estarão estendendo essas pautas para os leitores, como Teatro da Urca realizado na segunda-feira (29) às 20h com o tema “Vidas entrelaçadas às dos primeiros habitantes – diálogo com os povos da floresta e sua importância na formação cultural brasileira“, com o líder indígena Ailton Krenak, autor de livros como “O lugar onde a terra descansa“, a antropóloga e escritora Betty Mindlin, a pesquisadora de povos indígenas e atriz Andreia Duarte, atriz da peça “Gavião de Duas Cabeças“, que denuncia o genocídio e a situação dos povos indígenas e a escritora e cineasta Rita Carelli, autora do livro “Minha Família Enauenê” e também da coleção “Um dia na Aldeia“, feita em parceria com a ONG Vídeo nas Aldeias, cujo o título “A história de Akykysia, o dono da caça” foi premiado pelo White Ravens e com o selo Altamente Recomendável pela FNLJ.
Além da mesa, na terça-feira (30 de abril) às 09h o Flipoços recebe o 1º Fórum de Debates Indígenas, com duas mesas, a primeira “Palavra criadora: narrativas tradicionais indígenas” que será com Angela Pappiani, Betty Mindlin e mediação de Susana Ventura. Na sequência, ocorre a mesa “Povos Indígenas e Questões Territoriais: aspectos históricos e atualidade” com Ailton Krenak, Robson Antonio Rodrigues, Carla Cunha Pádua, Fernanda Borges, Adenilson Kiriri, Fabiano Melo e mediação de Taciana Oliveira Ruellas.
“Nós tivemos o cuidado de pensar esta temática e de, com o apoio da Betty Mindlin, formatar a primeira mesa, em que o debate sobre o genocídio dos povos indígenas e a literatura, bem como a arte, feita a partir desta pauta, torna-se obrigatório. Será uma mesa de altíssima qualidade intelectual e indispensável na nossa programação, visto que os povos indígenas são inerentes à nossa formação”, declarou a organizadora e curadora do evento, Gisele Corrêa Ferreira.
Como o evento abrange um público muito grande, também haverá espaço infantil dedicado ao indígenas. Essa ação será realizada no Sesc Flipocinhos com dois autores indígenas, que são Daniel Munduruku e Auritha Tabajara e ficarão responsáveis por bate-papos e contação de histórias ao público infanto juvenil do festival.
FONTE: https://desencaixados.com/noticias/14a-edicao-do-flipocos-valoriza-pautas-indigenas-e-dos-povos-originarios/
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